O Instituto da Psicanálise Lacaniana (IPLA) tem se dedicado a pesquisar as modificações do laço social na pós-modernidade. Essas pesquisas se baseiam na teoria psicanalítica de Sigmund Freud, relida e avançada por Jacques Lacan e promovem uma psicanálise para o Século XXI, denominada Clínica do Real.

Novas demandas de tratamento psicanalítico surgiram a partir dos efeitos subjetivos das recentes inovações tecnocientíficas nos campos da medicina e da genética. As novas tecnologias quebram os limites habituais da biologia, criando o homem e a mulher “aumentados” (enhanced), melhorados.

Não nascemos mais como antigamente. A biotecnologia tem revolucionado a origem da vida humana: fertilização in vitro, intervenção a nível do embrião, solicitação a banco de material genético para escolha de um doador conforme preferência de caracteres, congelamento de óvulos, útero de substituição e escolha do momento mais oportuno para ter um filho. Estas técnicas, entre outras, nos permitem agir sobre a natureza e modificá-la de uma maneira inédita, com consequências inesperadas.

Nas palavras de Jorge Forbes, “hoje, podemos mais do que queremos.”

Ainda que a medicina do futuro permita diagnósticos cada vez mais precisos e tratamentos de acordo com as especificidades dos genes, há algo que sempre escapa. Os índices crescentes de infertilidade sem causa aparente, por exemplo, demonstram que a dimensão inconsciente envolvida no processo da reprodução transcende o que a ciência e a tecnologia podem ver, predizer e controlar.

Frente à angústia gerada pela falta de certezas e garantias diante de um investimento libidinal e financeiro, as pessoas que buscam “serem assistidas”, por vezes, respondem com resignação. Observa-se hipertrofia de crenças religiosas e uma tendência de paralisação de suas vidas em nome de uma possível gestação. Pode-se reagir ao tratamento a partir do “vitimismo” sem privilegiar a escolha pessoal e singular implicada no desejo de ter um filho.

Trazemos para essa Clínica Psicanalítica da Reprodução Assistida do IPLA, a experiência dos últimos 13 anos de atendimento da Clínica de Psicanálise do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-tronco da Universidade de São Paulo, onde também nos deparamos com as consequências subjetivas dos avanços da ciência. Esta clínica é dirigida pelo psicanalista Jorge Forbes e pela geneticista Mayana Zatz, onde são atendidos pacientes diagnosticados com doenças neuromusculares de origem genética.

Desde o início, Jorge Forbes detectou a presença de um vírus social ao qual nomeou de RC, Resignação e Compaixão.  Por parte do paciente, uma resposta que vai da raiva à resignação, enquanto da parte da sua família, do choro à compaixão. Esse vírus também é encontrado nos atendimentos psicológicos apoiados na psicologia positiva. Entendemos que há um limite nessas práticas, pautadas no ideal da adaptação e do bem-estar que reforçam a autocompaixão, a esperança e a elevação pessoal. A psicanálise, pelo contrário, leva em conta a especificidade e a singularidade do desejo humano.             

Ao vírus RC, Resignação e Compaixão, Jorge Forbes antepôs o antídoto IR, Invenção e Responsabilidade. A proposta de tratamento, em suas palavras, “é devolver ao paciente o momento surpreendente pelo qual ele passa ao receber uma notícia incompreensível afetivamente. É fazê-lo responsável pelo que lhe ocorre, levando-o a uma resposta singular, portanto, criativa.”. A psicanálise se contrapõe ao medo e à vitimização como norteadores das ações, substituindo-as pela ética do desejo.

A Clínica da Reprodução Assistida do IPLA surgiu por uma demanda de nossos pacientes que buscam uma prática radicalmente diferente das oferecidas hoje, uma prática que empresta consequência e implica o sujeito em uma posição ética. A proposta é oferecer o atendimento psicanalítico frente aos angustiantes desafios e escolhas surgidos com as novas técnicas e possibilitar a ampliação da prática clínico-científica. Busca-se assim uma integração entre os dois campos de saber, Genética e Piscanálise, em benefício daqueles que escolhem o processo de reprodução assistida.

A Clínica Psicanalítica da Reprodução Assistida do IPLA abrange quatro segmentos:

Atendimento

Atendimento psicanalítico àqueles que buscam ter filhos através da reprodução assistida, seus familiares e profissionais que trabalham nessa área.

Pesquisa

Parceria com instituições de ensino na área da genética e clínicas de reprodução assistida.

Transmissão

Cursos de formação e subsídios clínico-teóricos aos profissionais que estão envolvidos neste processo: médicos, geneticistas, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, doulas.

Assessoria

Assessoria a organizações públicas e privadas que atuam – direta ou indiretamente – com questões relacionadas à reprodução humana assistida.