"A Inteligência Artificial vai fazer o repetitivo, o genérico, melhor que nós, e nada do que seja singular e desejante"
Jorge Forbes Anos antes do ChatGPT, mais precisamente em 1955, Lacan discursou sobre a linguagem das máquinas e sua implicação na Psicanálise. A conferência em questão "Psicanálise e Cibernética, ou da Natureza da Linguagem" está publicada no Capítulo XXIII, do Seminário 2 de Jacques Lacan "O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise". "Lacan vai trabalhar a relação entre psicanálise e cibernética, entre pensamento e ciência na psicanálise e pensamento e ciência na cibernética, através da natureza da linguagem", pontua Jorge Forbes, em seu Curso da TerraDois (ata estabelecida por Vânia Viana). Se em 1955 essa junção — Psicanálise e Cibernética — poderia parecer própria de um surrealismo, ou como coloca Forbes "lembra Salvador Dali que junta uma máquina de costura com um guarda-chuva, uma junção apenas pensável no surreal", hoje, com a incidência da Inteligência Artificial em nosso dia a dia, ela se torna uma estranheza palpável. Quando as máquinas começam a fazer as tarefas humanas, podemos nos perguntar “o que define o ser humano?”. É importante que a Psicanálise se junte às outras disciplinas que se debruçam sobre a Inteligência Artifical, uma vez que todas as questões analíticas são atravessadas por um "quem é eu?". "O que se passa em uma análise são tentativas de significação. O que uma pessoa que se analisa tenta fazer é buscar os justos atributos que lhe definam quem é.", escreve Jorge Forbes no trabalho de 1987 "Os Caminhos Lógicos da Psicanálise: O Nome Próprio". A questão da relação da linguagem e da identidade, que passa pela lógica, pela linguística, pela literatura (lembra Letícia Genesini no artigo "O que há em um nome") e pela Psicanálise pede agora um refraseamento.
Forbes aponta um caminho em seu texto "Fazer-se tolo de um real: o que é crer no sinthoma?": "A resposta que uma pessoa consegue construir em análise a esta opacidade gozosa, a este estranho de mim mesmo (das Unheimliche, de Freud) tem que ser passada no mundo para fazer sentido para a própria pessoa." Há uma pequena, quiça vantajosa, distância que temos sobre as máquinas. Não é nossa potência, mas nosso impossível. |