Você quer o que deseja? 12/09/2012

Por Ariel Bogochvol

Texto de abertura

Encerramento do Curso para a Formação em Psicanálise IPLA 05.

Mesa-redonda com a participação de Carlos Genaro, Elza Macedo, Leny Mrech e Marta Monteiro e coordenação de Ariel Bogochvol. 12 de dezembro de 2005.

Não é comum um psicanalista se tornar um autor popular. Mais comum são psiquiatras, psicólogos, técnicos em comportamento lançando livros de auto-ajuda “Como ensinar seus filhos”, “Como viver bem”, “Como vencer na vida”, conquistarem o público. O livro de Jorge Forbes é, no entanto, um sucesso editorial.

O título Voce quer o que deseja? não é uma afirmação mas uma pergunta. Ele instaura uma disjunção entre dois termos que, na linguagem cotidiana, estão próximos. (Desejo…querer…vontade). Produz um efeito de estranheza e de divisão.

A colocação em forma de pergunta separa o querer e o desejo e instiga o leitor a se perguntar: quero o que desejo? Lacanianamente falando, convoca o $ entre a demanda e o desejo. O leitor é, imediatamente, convocado a participar da resposta, e não tem, de entrada, os significados dos termos querer e desejo, tem apenas o intervalo de uma interrogação.

O intervalo é instaurado pela interrogação mesma. Seu efeito é criar, na harmonia inicial entre os termos, uma desarmonia, uma divisão e deixar em suspenso a possibilidade de uma harmonização futura. Espera-se, a partir da pergunta, um manual tipo “tudo o que você deveria fazer para querer o que deseja” com definições precisas dos termos “querer” e “desejo”. Nova surpresa: não há índice, lista, bibliografia.

A introdução é ocupada pela pergunta da capa, por seu desdobramento e incidência em numerosos campos. Há uma certa desunidade expressa em sua divisão – crônicas, conferências, lacanianas – uma “deselegância discreta de suas meninas”. Seguem-se os textos. Qual o elemento comum da série?

Faz uma série onde não há, aparentemente, série. É a pergunta que confere unidade à desunidade do livro. É o desejo, “desejo do analista”, que perpassa todos os textos, que sustenta a pergunta e que, em parte, a responde. J.F. parece querer o que deseja.

Crônicas são pequenos textos que extraem dos fatos cotidianos uma verdade insuspeita.

Operando como um repórter ou um investigador, atento ao banal e aos detalhes, extrai do detalhe e da banalidade algo que a eleva à categoria de uma verdade preciosa, de um achado. Vai do particular ao universal e do universal ao singular.

É um exercício de psicanálise aplicada ao cotidiano, uma psicopatologia da vida cotidiana tomando pathos (como tomam os colegas da psicopatologia fundamental) como paixão, como aquilo que nos afeta.

Conferências são textos estabelecidos a partir de seus Seminários, onde verificamos o movimento de aplicação da psicanálise a grandes temas da cultura, da política, da clínica, temas improváveis, inesperados: Matrix, musica eletrônica, luxo, honra, vergonha…

Lacanianas, são textos que tem como objeto a psicanálise ou as instituições psicanalíticas e que demonstram o estilo clínico e de transmissão singulares de J.F. Não um repetidor de Lacan como muitos, mas um seguidor de Lacan, no sentido amplo, um autor lacaniano no sentido estrito.