Por Marta Monteiro
Decidi neste trabalho destacar duas cenas da experiência da personagem Fátima, apresentada por Jorge Forbes em seu livro, para pontuar o que pode equivaler a um final de análise referenciado pela segunda clínica.
Na segunda clínica, como afirma Jorge Forbes à pg 197, o objetivo não é revelar, compreender o inconsciente, mas chegar a um ponto de esvaziamento das significações do que é dito, visando fazer do significante desprovido de sentido uma letra que possa inventar em vez de repetir histórias. Era a esperança de Lacan de fazer surgir numa análise um significante novo que pudesse “como Real, não ter nenhum tipo de sentido”.
1ª cena:
Fátima, numa repetição incessante de porta em porta tenta sua chance de serviço como recepcionista e indicadora de assentos no Teatro Municipal.
2ª cena:
Uma porta semi-aberta, uma força estranha, sem titubeio atravessa a porta, chega ao palco, liga seu radinho, e dança, dança, sob os olhares dos bailarinos que escondidos a observam. Exausta, reproduzindo a última cena do Cisne, joga-se ao chão, ajoelhada, arfando.
– Brava! Brava! Brava! Aclamam os bailarinos.
Pega o radinho, olha assustada, e ao invés de sair correndo, volta a boca da cena e, no melhor da lembrança que tinha do filme daquela bailarina, põe a mão direita sobre o coração e agradece.
Brava, Fátima, Brava!