Por Carlos Genaro
Há uma evidente disjunção entre o querer e o desejar. Mas a coincidência não é menos problemática.
O Hai kai de Paulo Leminski o evidencia:
Muito romântico
meu ponto pacífico
fica no atlântico
o fim da análise o analisante é “chamado a renascer para saber se quer aquilo que deseja… É esse tipo de verdade que, com a invenção da psicanálise, Freud trouxe à luz.”
Ora, é “preciso pagar, sobretudo pelo resgate do desejo”, e assim uma nova ética se torna necessária, uma ética que não seja dos bens, do conforto.
A nova ética, não comporta o conforto pela excentricidade do ponto de onde se deseja e pela mesma excentricidade do objeto do desejo. Essa excentricidade leva a um além do inconsciente e implica o corpo. Este, o corpo, precisa entrar no jogo do desejo. É preciso operar com ele. O que implica em saber se desvencilhar dos entraves que o sentido coloca para o funcionamento do corpo. O além do inconsciente é isso.
Para encerrar, um poema de Drummond:
Lição
Tarde, a vida me ensina
esta lição discreta:
a ode cristalina
é a que se faz sem poeta.