Por Liége Lise
Pesquisa com abelhas comprova que o ambiente pode afetar o comportamento e a expressão dos genes. Se isso acontece com as abelhas, por que não com os humanos?
Como funciona uma colmeia? O que determina as diferenças no comportamento entre as diferentes “categorias” de abelhas, que se dividem entre rainhas e operárias, provedoras e cuidadoras, cada qual com funções e responsabilidades bem definidas? O segredo pode estar nos genes, ou melhor, em alterações no modo como os genes se expressam. Uma pesquisa publicada recentemente pela revista Nature Neuroscience encontrou diferenças significativas na expressão dos genes cuidadoras e das provedoras. O estudo apontou também que abelhas mais velhas, que já tinham exercido a função de cuidadoras, quando colocadas em uma colmeia onde só havia rainhas e larvas, supreendentemente, reassumiram a função de cuidadoras – tudo devidamente acompanhado de alterações na expressão dos genes.
Mas o que o comportamento das abelhas tem a ver conosco? Para a Dra. Mayana Zatz, Diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Instituto de células-tronco da Universidade de São Paulo, a partir desse estudo, podemos depreender que a mudança de comportamento altera a expressão genética. “O que esta pesquisa mostra é que essa alteração nas abelhas é reversível, porque as abelhas mudam as expressões dos genes quando elas passam de cuidadosas para provedoras. Essa mudança de comportamento depende de uma alteração nas expressões dos genes, e isso pode ser revertido” afirma ela.
Na Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano, os casos atendidos já evidenciam uma significativa mudança física e subjetiva dos pacientes em tratamento psicanalítico, e a confirmação, na prática, da hipótese norteadora do trabalho clínico, que é a da influência da psicanálise na expressão genética. Essa pesquisa com as abelhas vem ao encontro da premissa de trabalho dos psicanalistas, segundo a qual é possível alterar a expressão genética a partir da mudança na postura do paciente frente à doença.
Este trabalho é fruto de uma parceria pioneira entre a Genética e a Psicanálise, empreendida por Dra. Mayana Zatz e Dr. Jorge Forbes. Há seis anos, com a participação dos psicanalistas do Instituto da Psicanálise Lacaniana (IPLA), o Centro de Estudos do Genoma Humano tem a proposta do atendimento analítico aos portadores das doenças neuromusculares e aos seus familiares e amigos. É uma iniciativa que, inicialmente, parecia inusitada e impossível, mas aos poucos se confirma como um trabalho de impacto significativo. Nas palavras de Mayana Zatz: “Ao que tudo indica, logo teremos instrumentos para mensurar os resultados do ponto de vista científico.” Uma mostra de que é no limite do saber que abrimos caminho para o novo.