Velha, eu? 16/07/2013

Por Claudia Riolfi

No novo laço social, conceitos tais como juventude e beleza são muito relativos para quem consegue se inventar e sustentar no mundo seu jeito de ser feliz 

A americana Dorothy Custer desistiu de fazer uma festa de aniversário tranquila, noticiou a BBC BRASIL, e, acatando sugestão de familiares, decidiu comemorar com estilo: com a ajuda de um instrutor, fez um base jump, no caso, um salto de paraquedas da ponte Perrine, no estado de Idaho. Alguma novidade? Quase nenhuma, à exceção de que era a centésima segunda comemoração de aniversário de Dorothy!

A ex-dançarina Jacqueline Murdock fez sucesso no teatro Apollo, em Nova York, quando tinha dezessete anos. Hoje, aos 82 anos, está no casting da última campanha da grife de luxo Lanvin. Em suas fotografias, ela parece ter exatamente sua idade. Quando dá entrevistas, mostra-se extremamente satisfeita com seu trabalho.

A americana Atená tem cinquenta e seis anos. Surfou na Califórnia, no Japão, na Austrália, no Havaí. Percorreu a costa do Pacífico contornando a América Latina desde os Estados Unidos, sozinha em um jipe, numa viagem de um ano e quatro meses exclusivamente para surfar, até decidir-se por ficar em Florianópolis, em 1976, depois de experimentar as águas da costa do nordeste e sudeste do Brasil. Foi a primeira mulher a, habitualmente, surfar na Ilha, tornando-se pioneira na história dos esportes de Florianópolis, onde, além de surfar, é professora universitária em universidade pública.

A argentina Viviana Morales acaba de se tornar campeã sul-americana de pole dance. Para quem não lembra, essa modalidade de dança, para além da sensualidade que evoca, pede a realização de acrobacias circenses, em torno de uma barra vertical, que exigem grande força física. Competindo com jovens belíssimas, Morales conseguiu a proeza aos cinquenta anos de idade.

Esta brasileira acaba de abrir sua caixa de correios. Aproveitando-se da aproximação de seu quadragésimo oitavo aniversário, várias “gentis” empresas enviaram-lhe ofertas de pacotes para parecer jovem. Sem qualquer demérito para esse tipo de prática, ficou, parada e infeliz, esperando que propostas para se sentir jovem tivessem sido enviadas.

Os folders que encontrou não teriam ajudado – em absolutamente nada – Dorothy, Jacqueline, Atená e Viviana a executar as suas proezas. Isso porque suas musas estão no campo da ação, não do semblante. A juventude delas se expressa no uso libidinoso e criativo de seu corpo. Elas possuem corpos vivos que usam como lhes apraz para viver do modo que escolheram ser o mais saudável para elas.

Agora que em nosso país estamos caminhando para o envelhecimento da população, é hora de pensar em uma, digamos – por falta de palavra melhor – educação para a velhice. E como esse tipo de educação se relaciona com a psicanálise. A clínica do real, ao mudar a relação da pessoa com o seu modo de obter satisfação, talvez, tenha muito a dizer a esse respeito.

Tão logo me desocupe das savanas, dos leões, dos desertos e das montanhas africanas, onde divertidamente trabalho nesse pré-aniversário, volto a rascunhar uma proposta. Por enquanto, convoco a todos, em especial às maiores de quarenta e cinco: e aí, meninas, em que mundo vocês querem viver quando tiverem noventa? Como pretendem construí-lo? Como, com suas ações, vão se perguntar: – Velha, eu?!

Claudia Riolfi é psicanalista, cursou pós-doutorado em Linguística na Université Paris 8 Vincennes-Saint-Denis. Professora na Faculdade de Educação na Universidade de São Paulo. Diretora Geral do IPLA