Uma escola para “pensar diferente”? 12/05/2016

Por Alain Mouzat

Em tempo de falência das respostas – sejam elas da religião, dos partidos ou mesmo das escolas e universidades – não é de se espantar que se encontre um público que quer “pensar diferente”

Hoje, num portal de notícias, me deparei com esta: contrariamente à escola que propõe saberes padronizados mas que não resolve sua vida, existem escolas que propõem disciplinas pelo menos originais: ver o lado bom da vida, como deixar de ser tímido, como ter conversas mais interessantes, como tomar as melhores decisões. Em suma, um cardápio de respostas antecipadas às demandas por vir. Soluções para problemas que você nem teria pensado que tivesse.

Do ponto de vista da medicina preditiva, a descoberta já tinha sido feita por um tal de Dr. Knock, personagem de uma peça de Jules Romain: em toda pessoa sadia há um doente que se desconhece. Basta achá-lo. E explorá-lo. O que lembra, aliás, outra personagem da literatura brasileira, o alienista de Machado de Assis.

Em tempo de falência das respostas – sejam elas da religião, dos partidos ou mesmo das escolas e universidades – não é de se espantar que se encontre um público que quer “pensar diferente”.

De certa forma a psicanálise é também geradora dessa mesma demanda (não se assuste, essa afirmação tem o aval de Lacan1. A diferença é que a resposta que ela propõe fica a cargo de quem a solicita.

Podia ser diferente?  Daria para encontrar em algum lugar que não em nós mesmos, a nossa singularidade?

Alain Mouzat é professor da Universidade de São Paulo, doutor em linguística, psicanalista e membro do Instituto da Psicanálise Lacaniana.


1) “ Em suma consegui o que no campo do comercio ordinário gostariam de poder realizar com tanta facilidade, com oferta criei demanda” (Lacan: A direção do tratamento, 1958) 

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