Um tempo para despertar 09/01/2014

Por Helainy Andrade

As surpresas que o nascimento de um filho traz são semelhantes a um novo ano, quem pede não sabe o que vai receber.

No ano que passou, tive um filho, o Momi. Esse apelido surgiu quando nossa conversa evoluiu para o olho no olho, nos seus primeiros dias de vida. É meu jeito carinhoso de dizer abreviada e mineiramente “meu menino”. Já tinha uma menina, minha amadinha, como tive vontade de chamá-la desde que nasceu.

Posso dizer que a vida ficou melhor com eles, o que é algo muito esquisito de afirmar, já que se olhar objetivamente, a qualidade de vida caiu bastante. Agora, durmo menos do que preciso, trabalho mais do que jamais conseguira, irrito-me bastante de vez em quando e me preocupo de quando em vez. Mas é fato, acho que a vida tem mais graça agora.

Ter ou não ter filho? Ficar com um só? Não vou prejudicar minha carreira se tiver de me dividir entre ela e a maternidade? A mulher que está na casa dos trinta vai se perguntar por isso. Antes essa não era pergunta que se fazia, hoje, é uma questão de escolha. O que não quer dizer que quem escolhe ser mãe saiba o que está escolhendo. Talvez quem escolhe não ser, saiba melhor. É que quem pede não sabe o que vai receber.

Será que vai ser menino ou menina? Vai ter todos os dedinhos? Careca ou cabeludinho? Parecido com a mãe ou com o pai? Bonzinho ou pimentinha? Será que… será que… Até que ao final de aproximadamente 40 semanas de muito cismar, aquele que era só enigma, movimento, volume e afeto vai enfim vir à luz, a luz do dia, não do saber.

O enigma para a mãe continua e emerge sempre com uma carinha nova e desafiadora, a cada situação em que ela vê que aquilo que ela julgava saber não é suficiente para responder. Então, ela vai ter de, mais uma vez, achar a dose, sempre singular, de “mãesisse”: exercício de criação forjado no inexplicável do amor.

Mãe não pode dormir no ponto, no máximo pestanejar de cansaço, porque os filhos solicitam, perguntam, desafiam, desacomodam, ufa… Aliás, não será que é por isso que a vida fica mais linda, mais cheia de graça.

Mais cheio de graça é o frescor e a aposta de um ano que começa, os projetos se renovam, os desejos se reeditam, os propósitos se vivificam. É momento em que nos imbuímos do espírito do novo, para fazer diferente aquilo que do passado não queremos repetir. Assim como a vida vivendo exuberante nos filhos provoca urgência, pressa e vontade de viver, o ano novo também faz cócegas nos sonhos, porque o tempo não espera ninguém. Vambora, tá na hora!

Helainy Andrade é psicanalista em Varginha-MG.