Por Dorothee Rüdiger e Carlos Cortez
O que eleições municipais e os comerciais de margarina têm em comum?
Nós, brasileiros, vamos, mais uma vez, às urnas para eleger prefeitos e vereadores. A quem entregar, em 7 de outubro, o poder de governar nossas cidades? Na capital paulista, esta é uma pergunta difícil de responder. Convenhamos: o negócio “tá russo”.
Candidatos, de cara “televisivelmente lavada”, não faltam. Na terra da garoa, a propaganda eleitoral está mais para concurso de “mocinho” ou “mocinha” da paróquia. Afinal, nessa época, candidato que se preze vira quase santo. É chique aparecer onde gente chic não aparece. Visitar barraco na favela, comer pastel de feira e de rodoviária. É a coisa mais natural do mundo, político botar a mão no lixo para dar um exemplo de civismo . Até “busão” lotado um dos candidatos encarou! O que não se faz para tomar um “banho de povo” e ganhar votos, muitos votos?
O populismo embolsa milhões de votos. Eleição após eleição.
Pois é. Somos pequenos burgueses. Queremos uma casa própria. Queremos um carro na garagem e nas ruas (ou melhor, dois! Há de se pensar também nos dias de rodízio…). Queremos um cão fiel e dois filhos para alegrarem a casa. Sustentar isso tudo com um bom emprego e um título acadêmico. E que tal uma casa na praia, duas empregadas e um iPhone 5? E assim votamos. Votamos em quem promete menos impostos e mais creches, mais parques, mais escolas, mais hospitais, mais AMAS. Queremos ser amados, nem que seja no pronto socorro municipal! Amamos nossa vidinha e amamos quem nos promete tudo isso e mais um pouco. “Tá russo, mano”.
Trocamos uma vida criativa e responsável, uma vida qualificada, como diz o psicanalista Jorge Forbes, por qualidade de vida. É o que candidatos “expertos” prometem. Qualidade de vida. Funciona como no comercial de margarina. A cidade será linda, arborizada, limpa, cheirosa e alegre com crianças e cachorros brincando no sol. Tudo isso sem custo, porque o candidato promete bancar o pão, o circo, o vale transporte e a ciclofaixa. Para realizarmos nossos desejos, só falta votar no mocinho da TV.
Quatro anos de insatisfação. É o preço da promessa de qualidade de vida. Mas, quem diz que não há, para os consumidores da margarina, da qualidade de vida e do populismo, uma baita satisfação na insatisfação?! Reclamar. Que delícia!
Desconfiemos. Senão, o futuro “tá russo, mano!”.