Por Ana Carolina Barros Silva
Diante da pluralidade de opções, temos incerteza e angústia. Quando alguém escolhe a certeza, pode se ver tentado pela saída do suicídio
Em sua reportagem para a BBC-Brasil, no dia 24 de setembro, Valéria Perasso aponta que o suicídio é a segunda maior causa de morte de pessoas entre 15 e 29 anos de idade, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde. Ela chama atenção, também, para o fato de que 75% desses casos acontecem na população de baixa e média renda. Como ler essa tragédia?
Em um momento em que a fantasia de “felicidade” parece poder ser comprada, parece ser mais difícil, para aqueles que não podem pagar por ela, renovar os vínculos com a vida. Vivemos em um tempo no qual muitos interpretam que é preciso gozar sempre. Para isso, vinculam-se às imensas possibilidades de consumo, não só de bens materiais, mas, principalmente, de estilos de vida. Nesse contexto, como atravessar a adolescência? Como inventar um caminho singular nesta fase histórica, cultural e socialmente construída, marcada pelas descobertas do corpo, da sexualidade e, principalmente, pelas novas possibilidades de ser e estar no mundo?
Diante da grama verde do vizinho, temos um terreno fértil para frustrações, indecisões e confusões. Diante da pluralidade de opções, temos incerteza e angústia. Quando alguém escolhe a certeza, pode se ver tentado pela saída do suicídio.
Essa não é, no entanto, a única via possível para o escoamento das inquietações dos jovens. Apesar das influências sociais, culturais, econômicas, históricas e políticas, o sujeito ainda pode assumir posições menos prejudiciais a si mesmo em contextos que geram sofrimento.
O adolescente que consegue criar alternativas de vida e saúde pela arte, pela cultura, pelos laços de amizade, de amor, pela implicação política, pela literatura ou pela análise pessoal (entre tantas outras) é aquele que consegue sustentar suas dúvidas, incertezas e angústias.
Aos pais e aos educadores, portanto, resta sustentar um período de indecisões sem pressionar o jovem por respostas definitivas. Às vezes, é preciso tomar distância para que ele possa, sem precisar recorrer ao trágico, construir novas formas de sustentar seu desejo no mundo.
Ana Carolina Barros Silva é psicóloga, psicanalista e mestre em Educação pela Universidade de São Paulo.
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