Por François Leguil
A incerteza dos diagnósticos é um impasse comum a todos os que lidam com uma prática que deve levar em conta o sujeito do inconsciente.
Há dois anos, uma revista francesa publicava uma entrevista com o «pai» do DSM4, o psiquiatra norte-americano Allen Frances. Sua severidade contra o DSM5 era considerável. Tendo-o escutado recentemente, em Paris, sabemos que sua crítica não se atenuou! Allen Frances observava que a «inflação diagnóstica» aumenta os perigos de estigmatização e de segregação; uma rotulagem sem «espírito científico» não oferece mais garantia de validade.
À pergunta: «Que solução o senhor tem em mente?», ele respondia: «Em primeiro lugar, creio que seria preciso reformar profundamente a prática médica. Um psiquiatra ou um médico deveria poder esperar várias sessões antes de fazer um diagnóstico. Metade das pessoas que vêm por um problema de ordem psiquiátrica se restabelece sozinha… Creio que o procedimento utilizado para fixar os critérios já caducou».
Ao contrário da precisão dos diagnósticos médicos, os da clínica mental se confrontam com uma dupla incerteza: seriam eles justos e, quando assim parecem, seriam eles legítimos? Singularmente, essa preocupação já era a de Freud: a psiquiatria nada teria perdido se o houvesse escutado mais.
No final da trigésima quarta das Novas Conferências de Introdução à Psicanálise, ele avisava: «nossos diagnósticos, muito frequentemente, só intervêm a posteriori. Não podemos julgar o paciente que vem para um tratamento… antes de tê-lo estudado analiticamente durante algumas semanas ou meses… Após esse período probatório, pode-se constatar que se trata de um caso impróprio… Prolongamos (então) a tentativa um pouco mais com o paciente (para) saber se não podemos olhá-lo sob uma luz mais favorável».
A incerteza dos diagnósticos é um impasse comum a todos os que lidam com uma prática que deve levar em conta o sujeito do inconsciente. Esse impasse reclama uma solução. Em 1933, Freud abria uma perspectiva que permanece a nossa: entre os modos que mudam, uma disciplina se impõe em função de seu teor de verdade (Wahrheitsgehalt) «sobre aquilo que toca o homem de mais perto, sobre seu ser próprio». Essa disciplina só merece durar se tiver começado no contato com aqueles que sofrem e na necessidade de experimentar seu valor terapêutico (ihren therapeutischen Wert).
Entre a verdade sobre a condição humana e o real da mudança oferecida àquele que se confronta com ela, a psicanálise permanece o que é há mais de um século: uma alternativa.
François Leguil, de formação psiquiátrica, exerce a psicanálise em Paris. É membro da l’Ecole de la Cause freudienne (ECF), da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) e da Associação Mundial de Psicanálise (AMP).
Tradução de Alain Mouzat