Por Dorothee Rüdiger
na festa ia me trazer um bom casamento. Se isso não acontecesse, explicavam minhas novas amigas brasileiras, iam me ensinar umas “simpatias”para ajudar a convencer o santo a me arrumar pelo menos uma união estável.
Sinceramente? Achava isso nada mais que divertido, pois já estava com o noivo de meu lado. Além disso, por que uma alemã protestante e esclarecida ia realizar uma feitiço para conseguir um casamento? É coisa de brasileiro de se render à magia, à fantasia, à “simpatia”!
Deixei-me enfeitiçar. Fui rendida pela magia do Brasil. Acabei por apreender as simpatias do amor que não vou contar aqui. Não. Nunca coloquei a imagem de Santo Antônio de ponta a cabeça numa balde de água gelada para reforçar um pedido de amor. Também não lhe retirei a imagem do menino Jesus para conseguir o que queria. Há, no Brasil, mil e uma simpatias que ensinam para amarrar um amante ao outro.
Mas, será que invocar Santo Antônio é crença de brasileiro? Imagine! Lembro de minha avó germânica da parte católica de minha linhagem invocar Santo Antônio , carinhosamente chamado por Schlampertoni (Toninho dos Desmazelados) quando procurava desesperada um objeto perdido. Pois o santo, diz a fé popular católica de Norte a Sul, traz coisas perdidas.
Assim, Santo Antônio era invocado no Brasil, para que se encontrasse, além de objetos, escravos foragidos. É o santo das mulheres estéreis que desejavam conceber um filho e, principalmente, o santo casamenteiro. Antônio rima com patrimônio. Diz a lenda que, de fato, o frade franciscano, famoso no século XIII como um grande orador de Lisboa a Pádua, teria arrumado para uma moça desesperada dote, enxoval e vestido de noiva para que ela pudesse se casar. Talvez seja por isso que no dia 13 de junho, a Sé e o município de Lisboa não somente realizam gratuitamente casamentos para casais sem recursos, com também arrumam patrocínio para que o casal possa ter um start financeiro para a vida em comum.
O santo tão popular é invocado para trazer o que falta. Haja santo! Seres humanos que somos, sempre nos faltará algo. Afinal, vivemos numa civilização que nos limita, Impossibilitada de nos dar tudo que queremos, está em falta conosco. Para quem não quer simplesmente invocar o santo, não há jeito, a não ser dar um “jeitinho”, como ensinam os brasileiros, o “savoir-y-faire”, como diria Jacques Lacan, para procurar o que deseja.
Quem tem amigos, tem tudo. Quando corremos atrás daquilo que o coração manda buscar, aparecem. São para as horas difíceis. Assim, muitas vezes, quando duas pessoas decidem a viver juntos, de papel passado ou não, encontram amigos capazes de fazer uma “vaquinha” para bancar a festa, amigas que dão um jeito de arrumar um vestido para a ocasião, padrinhos que muitas vezes se endividam para dar o fogão e a geladeira que falta na cozinha do casal.
Casando, juntando, amigando, vamos encontrar o que falta? Dificilmente. Porque não há santo nem jeitinho para nos proteger das vicissitudes do amor. No entanto, é bom apostar no amor. Melhor ainda, é ter amigos. Quem tem amigos, pode tirar o santo do balde de água gelada, desamarrar, devolver o menino Jesus e deixar o “Toninho” em paz.
Dorothee Rüdiger é psicanalista e doutora em Direito pela Universidade de São Paulo