Por Liége Lise
Adolescente supera a indústria farmacêutica e desenvolve uma ferramenta simples e barata para detectar seis tipos de câncer. Atitude demonstra uma tendência do nosso tempo: a aposta em saídas simples e criativas
Jack Andraka tem 15 anos, está no Ensino Médio e acabou de perder um tio querido, vítima de câncer de pâncreas. Mostrando que para nossas inquietações a melhor saída é a criação, o adolescente desenvolveu um exame para diagnosticar precocemente seis tipos de câncer, inclusive o que vitimou seu tio. Doença rara e agressiva, o câncer de pâncreas, sem diagnóstico precoce, é extremamente letal, e mata 95% dos pacientes.
Andraka enviou 200 pedidos a instituições norte-americanas para desenvolver seu projeto, e ouviu de volta 197 ”nãos”. Um dos poucos “sins” que recebeu lhe possibilitou sete meses de pesquisa diária, após o horário da escola. O resultado foi o desenvolvimento de um exame simples e acessível, que, comparado ao ELISA – método mais difundido de detecção de câncer –, é 26.667 mais barato e 400 vezes mais sensível. Com uma gota de sangue, ao custo de 0,03 centavos a tira de teste, o próprio paciente pode realizar, em cinco minutos, seis tipos de testes para câncer.
O que Jack Andraka tem em comum com Steve Jobs, que teve a vida ceifada pelo câncer de pâncreas, assim como seu tio? Além da luta contra a doença, o adolescente e o gênio do Vale do Silício criaram, cada qual a seu modo, ferramentas revolucionárias, capazes de transformar a vida das pessoas.
Alguma dúvida de que o exame desenvolvido pelo adolescente tem potencial para ocupar o panteão das grandes invenções? A ferramenta não requer treinamento nem equipamentos especiais, e pode ser usada para diagnosticar outras formas de câncer, monitorar medicamentos e detectar outras doenças infecciosas, como salmonela, E. coli, rotavírus, AIDS e doenças sexualmente transmissíveis. Ufa!
A inventividade de Jack Andraka aponta para uma tendência do nosso tempo, de quebra da verticalidade do laço social e dos protocolos burocratizados; uma aposta nas saídas simples e criativas. “[Os adolescentes] são os que mais espetacularmente exibem os traços da mudança de paradigma, da era industrial para a da informação. E também, estão encontrando soluções inusitadas para viver um mundo onde o Outro não existe”, já escreveu o psicanalista Jorge Forbes no texto Geração Mutante.
Ter humildade para aprender com essa nova geração e legitimar suas expressões de satisfação talvez seja um caminho para o entendimento de uma nova lógica, na qual o acento esteja na lógica sensível, menos cartesiana e racional. Como afirma o próprio Andraka: tudo é apenas uma questão de encontrar sua paixão e fazer as perguntas certas. Se isso acontecer, continue fazendo as perguntas, deixe a curiosidade fluir e
trabalhe duro. Sempre valerá a pena.