Por Suelen Gregatti da Igreja
Sem estudar, não se segue adiante na formação escolar; sem haver dúvidas e não-saberes, não há aprendizagem
Em 29 de julho de 2013, o jornal Folha de São Paulo apresentou uma discussão a respeito de uma mudança na avaliação na educação em São Paulo, atualmente em sistema de progressão continuada nas escolas públicas. No texto “Aluno de SP poderá repetir em 5 das 9 séries” foi anunciado o seguinte: se, hoje, os alunos só podem ser retidos no 6º e o no 9º ano, no futuro, poderiam ficar retidos no 3º, 6º, 7º, 8º e 9º anos.
A resolução traz à tona questionamentos por parte dos pais, tais como: Por que nas escolas públicas não há reprovação e, nas instituições particulares, sim? Haveria uma diferença entre os alunos de cada uma? Qual sistema seria melhor para a formação das novas gerações?
A Folha apresentou três pontos de vista. O primeiro defendia a mudança, tendo em vista a dificuldade de recuperar o que o aluno não aprendeu nos anos anteriores. O segundo apoiava a progressão continuada, a partir da preocupação com um possível deslocamento e pior desempenho do aluno reprovado. O último propunha a reprovação a cada ano, considerando que o aluno, com medo de ser reprovado, respeitaria mais a autoridade de quem o ensina, reduzindo a indisciplina.
Como ler a progressão continuada com a psicanálise? Se, por um lado, sabemos que a punição não é a melhor política para despertar o desejo de aprender, por outro, há de se pensar que mensagem a progressão continuada passa às novas gerações. Ao gerenciarmos as escolas públicas de modo diverso das instituições particulares, existe um risco concreto: de estarmos ensinando às novas gerações que, façam o que fizerem, não haverá consequências.
Uma ressalva: isso não significa que “reprovar” é igual a “tornar responsável”. Isso implicaria dizer que, nas escolas, onde há reprovação, todo aluno se torna consequente. Cabe lembrar que a autoridade do professor por vezes está pautada em uma posição segundo a qual ele seria detentor do acesso a uma suposta verdade à qual todos os alunos devem se submeter. A “implicação” dos alunos acaba sendo traduzida por decorarem meia dúzia de informações para passar na prova. Enquanto isso, suas formações … bom, quem se preocupa com isso?
Nós, que partilhamos de uma ética da psicanálise, pautada na consequência. Mas o que significaria essa afirmação, na linguagem do dia-a-dia? Significa que professor e aluno estão em lugares diferentes. Enquanto aquele está inserido em uma realidade, tendo acesso a conhecimentos construídos durante sua formação; este está em outra realidade, vivenciando novas experiências.
O fato de o professor poder calcular essa diferença é fundamental para o professor de ensino e aprendizagem e barra qualquer projeção de expectativa diante do aprendiz. Além disso, permite dar espaço para que o aluno possa se defrontar com dúvidas, construir hipóteses e colocá-las à prova. É assim que pode vir a construir conhecimento durante sua educação. Apostamos, portanto, que, se sem estudar, não se segue adiante na formação escolar; sem haver dúvidas e não-saberes, não há aprendizagem.
Suelen Gregatti da Igreja é doutoranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e professora de Língua Portuguesa.