Querem viver no Brasil… 29/08/2013

Por Alain Mouzat

Dentro da perspectiva da globalização, os desequilíbrios locais geram migrações que as fronteiras e os muros não conseguem estancar

Médicos cubanos, católicos perseguidos em seus países, chefs franceses, refugiados angolanos… já foram recebidos psicanalistas argentinos, assaltante inglês, italiano condenado… Já não entram mais na conta dos estrangeiros os portugueses, italianos e japoneses que há muito vivem por aqui. De alguma forma, todos no Brasil são imigrantes – de livre e espontânea vontade, ou não: escravos, degredados, perseguidos e refugiados.

Dentro da perspectiva da globalização, os desequilíbrios locais geram migrações que as fronteiras e os muros não conseguem estancar: o bem-estar europeu, a riqueza norte-americana agem como zonas de baixa pressão aspirando os fluxos da mão-de-obra dos países do leste europeu e da África.

O Brasil não precisa erguer muros nem tomar medidas protecionistas: os vistos de permanência, emitidos em 2012, não passam de dez mil. Mas, o perfil dos imigrantes muda: houve mais vistos concedidos a haitianos do que a portugueses; os chineses ficaram no nível dos espanhóis; houve mais norte-americanos do que japoneses e mais franceses que argentinos!

Os episódios de importação de mão-de-obra para suprir as carências não são novidade na história local. Médicos estrangeiros não vão resolver o problema da saúde no Brasil.  Mas são bem-vindos!

O Brasil é um país de identidade em construção permanente, ao sabor dos acidentes da história e das escolhas de vida de cada um.

Alain Mouzat é professor da Universidade de São Paulo, doutor em linguística, e psicanalista membro do Instituto da Psicanálise Lacaniana