Qual a desmedida do seu manequim? 15/11/2012

Por Liége Lise

Em uma era de excessos, como evitar a culpa por não resistir às tentações? Esqueça as fórmulas mágicas e a busca por “medidas certas” para o corpo e para a vida

“Tudo que é bom é ilegal, imoral ou engorda.” Em uma época de excessos, como evitar a culpa por não resistir às tentações? Apelando para fórmulas mágicas. Quando o assunto é o medo de engordar, aliás, a indústria farmacêutica é pródiga em oferecer alternativas para conter os nossos impulsos de comer além da conta – que, normalmente, nada têm a ver com a necessidade de alimentar.
Uma dessas soluções surgiu alguns meses atrás, quando a FDA, agência norte-americana que regulamenta remédios e alimentos, aprovou, pela primeira vez em 13 anos, um remédio para tratar a obesidade, o Lorcaserin. Considerada “revolucionária”, a droga causou furor ao prometer a perda de 5% do peso corporal após um ano de uso.
A nova droga está em sintonia com a tendência vigilante e moralista vigente hoje em dia, que oferece soluções pragmáticas ao que escapa às “justas medidas”, como os quilos a mais, a tristeza, a falta de concentração. “Tome um remédio e deixe de ser gordo”.  Essas soluções  incluem receituários religiosos, livros de autoajuda e medicamentos.  Propõem respostas padronizadas e comportamentos que privam a liberdade de escolha – todos temos de nos ajustar ao que se espera de nós.
No caso da obesidade, as soluções pragmáticas mais comuns são: os medicamentos, como o Lorcaserin, a cirurgia bariátrica, que literalmente corta o problema pela raiz, e pode causar inúmeros problemas de saúde, e a alteração radical na conduta alimentar – a dieta Dukan, nova febre para quem quer perder peso, corta os carboidratos do cardápio e, especula-se, levou a duquesa Kate Middleton a sofrer um transtorno alimentar. Mas vale tudo para deixar o corpo dentro dos parâmetros que dominam as capas de revista, não é mesmo?
No entanto, a psicanálise propõe outra abordagem, partindo do pressuposto que não existe uma medida certa do corpo.  Cada pessoa é o seu corpo. A satisfação e o prazer que sentimos no corpo não têm correspondência no peso, na porcentagem de gordura ou na circunferência da cintura.  A psicanálise convida o corpo a falar e criar a partir do entendimento do que ele diz sobre nossa subjetividade, inquietações e satisfações. Qual a desmedida do seu manequim?