Por Teresa Genesini
Neste mês, apresentamos trabalhos em dois grandes congressos internacionais de Genética:
– 19th International Congress of World Muscle Society, Berlim, de 7 a 11/10, e
– Congresso Anual da American Society of Human Genetics, San Diego / CA, de 18 a 22/10
A parceria da Psicanálise com a Genética, iniciada em 2006, por Jorge Forbes, psicanalista, e Mayana Zatz, geneticista, resultou na criação da Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano – USP, ligada ao Instituto da Psicanálise Lacaniana – IPLA. Essa clínica atende pacientes afetados por doenças neuromusculares de origem genética e seus familiares. Nota-se que, frente à angústia de receberem o diagnóstico da doença degenerativa, os pacientes reagem com resignação, enquanto seus familiares manifestam a compaixão. O congelamento nessas posições é causa de grande sofrimento. O tratamento psicanalítico retira a pessoa da sua posição de resignada levando, por vezes, também a seus familiares e amigos a saírem da posição de compaixão. A pessoa, em análise, se responsabiliza pelo seu acaso e inventa um novo jeito de lidar com a surpresa de sua condição clínica. Nesses oito anos, mais de cem pessoas foram atendidas, com sucesso registrado. Os resultados desse trabalho têm sido apresentados em congressos internacionais de Genética e congressos internacionais de Psicanálise.
Neste mês de outubro, participaremos de dois grandes congressos internacionais de genética: o 19th International Congress of World Muscle Society, realizado em Berlim, de 7 a 11, e o Congresso Anual da American Society of Human Genetics, realizado em San Diego/Califórnia, de 18 a 22.
Detalhemos:
1) O trabalho apresentado em Berlim trata de uma nova forma de atendimento psicanalítico usando a tecnologia do Skype: SKYPE AND PSYCHOANALYSIS: an approach to circumvent patients’locomotion difficulties.
Iniciamos experimentalmente esse recurso tecnológico devido às dificuldades socioeconômicas e à falta de acessibilidade do sistema de transporte público brasileiro, que representa um grande obstáculo para o deslocamento de pacientes portadores de deficiência física. Numa tentativa de contornar este problema, estamos analisando o efeito do uso do Skype como alternativa ao setting psicanalítico tradicional, que exige a presença física do paciente e do analista.
Nove entre dez pacientes, tratados experimentalmente com esta abordagem, afirmaram preferir a alternativa de sessão por Skype para não interromper o tratamento. Após 15 semanas de atendimento, retornaram à clínica para uma entrevista com Jorge Forbes e Mayana Zatz, com o objetivo de verificar até que ponto eles foram beneficiados com o tratamento. Os resultados mostraram que o tratamento psicanalítico por Skype foi efetivo e ajudou esses pacientes a lidarem com seu acaso de forma criativa e responsável.
Clique aqui para ver o pôster apresentado no WMS 2014.
2) Achados Acidentais. Na medicina de hoje, por meio de exames de última geração, doenças são anunciadas antes de qualquer sensação física. É o caso de exames genéticos que preveem com muitos anos de antecedência a probabilidade de se desenvolver determinada doença. Como reage o paciente diante dessa informação igualmente desagradável e estranha?
O sequenciamento de DNA de nova geração tem trazido preocupações éticas e psicológicas para geneticistas e psicanalistas em relação às potenciais vantagens e desvantagens de se comunicar mutações não relacionadas com o transtorno específico do paciente e / ou de um prognóstico incerto. É esse o tema da pesquisa apresentada no congresso de San Diego, Califórnia – USA: NEXT GENERATION DNA SEQUENCING AND INCIDENTAL FINDINGS: Consultant’s opinion about the impact of being informed.
A pesquisa tem como objetivo questionar se é razoável ou não para a sociedade o fato de delegar aos pesquisadores a responsabilidade ética de expor aos indivíduos, que procuram um diagnóstico específico, o conhecimento sobre os riscos genéticos adicionais que possam ser encontrados nesses exames, os chamados achados acidentais.
Uma amostra de 200 pessoas, jovens e idosos, de escolaridade variada, responderam a um questionário cuja pergunta principal era se gostariam ou não de serem informados desses achados acidentais. Dessa amostra, 85% respondeu que sim, gostaria de saber sobre a probabilidade de ser acometido de alguma doença no futuro.
Ora, abre-se aí um amplo campo para a Psicanálise, que desde sempre lidou com os “achados acidentais”, com aquele estranho que vive dentro de cada um de nós, que é o nosso mais íntimo e que sempre nos escapa.
Assim, Psicanálise e Genética se juntam na discussão ética de como lidar com os “achados acidentais”.
Clique aqui para ver o pôster apresentado no ASHG 2014.
Teresa Genesini é psicanalista, mestre em estatística pela UNICAMP e editora de ‘O Mundo visto pela Psicanálise’.