Por Emari Andrade
Nessas férias, que tal incluir na sua programação a visita a essas livrarias e a outras que podem estar bem perto de você?
Antigas, modernas, aconchegantes, bonitas, de médio ou grande porte, as livrarias atualmente não se restringem a um local de “venda de livros”. São espaços de cultura, lazer, descoberta de mundos novos, enfim, de contato com o legado cultural da humanidade. Na última semana de dezembro de 2013, a Revista Bula, deu destaque à reportagem da jornalista María Luisa Fundes, de Madrid, que selecionou as “As 10 livrarias mais interessantes do mundo” (http://www.revistabula.com/1659-10-livrarias-mais-interessantes-mundo/). Como ler, com a psicanálise, a escolha dessas livrarias?
Resumidamente: 1) A Ateneo Grand Splendid, em Buenos Aires, tem o maior acervo, 120 mil títulos, e está instalada em um teatro dos anos 1920; 2) Galignani, em Paris, é a primeira livraria inglesa na Europa fora das ilhas britânicas. Nela, o leitor pode fruir das melhores seleções de literatura anglo-americana e francesa e de “uma seleção sem igual de livros de arte e moda”; 3) Selexyz Dominicanen, em Maastricht, na Bélgica, é um exemplo de como tradição e soluções inovadoras podem se reunir. A livraria está instalada em uma igreja gótica do século XIII; 4) Livraria da Vila, em São Paulo, destaca-se pela arquitetura moderna e aconchegante; 5) El péndulo, na cidade do México, oferece um espaço amplo e relaxante, com toque original das plantas no interior do estabelecimento; 6) Brentano’s, livraria de quase 120 anos, tem repertório variadíssimo para o leitor interessado em ler em vários idiomas; 7) A Rizzoli, especializada em livros de culinária, é considerada uma das mais simbólicas dos Estados Unidos; 8) Lello e Irmão, no Porto, é uma das mais bonitas do mundo. Fundada em 1869, “tudo surpreende”; 9) Shakespeare & Co, Paris, é uma das mais charmosas. Era frequentada por Hemingway, Scott Fitzgerald e James Joyce. Sempre manteve à disposição os livros proibidos na Inglaterra e nos Estados Unidos; por fim, 10) Corso Como 10, em Milão, cujo destaque são os livros de moda e fotografia.
Para Daniel Penac, “a leitura não depende da organização do tempo social, ela é, como o amor, uma maneira de ser”. Tendo como ponto de partida essa frase, penso que podemos ler essa seleção de livrarias. Tais estabelecimentos não entram no padrão prêt-à-porter do mundo contemporâneo. Eles, individualmente, são uma maneira de ser e revelam um modo de ver a cultura elaborada de nosso mundo. Não são locais para se entrar, consumir um produto e sair. Ao contrário. Cada estante é cuidadosamente planejada, cada iluminação, disposição dos livros, cadeiras, espaços etc.
São espaços que, já na sua arquitetura, são verdadeiras obras de arte. Tal qual na lógica feminina, essas livrarias seguem a lógica do não-todo. Não podem ser tomados via “pacotão”, mas no um a um. Ao invés da racionalidade masculina, temos a esfera das sensações. Afinal, como descrever a sensação de tomar um café em uma igreja gótica de 1294, sentado em uma grande mesa em forma de crucifixo com a iluminação de um candelabro original do século XIX? Cada uma dessas livrarias oferece ao seu visitante algo único, seja pela seu acervo, localização ou forma de atendimento.
Além disso, condizendo com o mundo do século XXI, essas livrarias se destacam pela “criação de redes”. Tal qual o psicanalista da clínica do real que faz uma série de ações para que a psicanálise vá além do setting analítico e circule no mundo, as livrarias selecionadas não somente promovem a leitura, mas consistem em verdadeiros espaços de cultura e lazer. Promovem exposições, mostras de cinema, fotografia, lançamento de livros, shows, concertos, cursos, enfim, buscam conectar o homem às diversas manifestações artísticas.
Como mostra a reportagem, há atrações para todos os gostos. Nessas férias, que tal incluir na sua programação a visita a essas livrarias e a outras que podem estar bem perto de você? O roteiro pode trazer boas histórias e divertidas surpresas!
Emari Andrade é professora de língua portuguesa, faz doutorado em educação na Universidade de São Paulo e é monitora do curso online do IPLA.