Por Domenico Riolfi Barzotto
Depoimento de um menino de 13 anos
De outubro a dezembro de 2013, grupos pequenos de 25 pessoas dispostas a ir ao Teatro livre Abigail Wilmer podem assistir ao II Recital de Primavera cujo título é A família – Antologia.
Como, coincidentemente, o elenco congrega uma colega de classe, Sophia Tagliaferri, e uma ex-aluna de meu pai, Elisa Padinha, acabamos sacudindo quase uma hora do Butantã ao Limão atrás da promessa de, de acordo com o folder, presenciar um “mergulho no entendimento da estrutura da família de hoje no complexo processo de individuação humana”.
A peça é excelente. A atuação de Sophia, em especial, valeu cada sacudida. É composta por esquetes desarticulados. Essa escolha se reflete no cenário. É apresentada em uma casa com diversos quartos. O público se move durante a apresentação. É impossível ficar entediado. Em cada cômodo, um membro da família é tematizado. Comédia e drama alternam-se. A trilha sonora é de primeiríssima qualidade.
Só achei meio pesada a escolha do afeto predominante: a família estava cheia de sofrimento, sem espaço para a alegria. Alguns exemplos. Os irmãos são mostrados como ciumentos e invejosos. Podem até ser protetores, mas, quando o fazem, protegem de modo exagerado, o que é transformado em drama. Os papais são uma coisa boa de se ter quando se é uma criança pequena. Quando se cresce um pouquinho, melhor mandá-los para longe. Só servem para atormentar.
O que me intrigou foi a representação de mãe. De acordo com alguns dos textos da peça, a mãe só ama quando o seu filho está ferrado. Se um filho quer ser amado, tem de adoecer, ficar triste, fracassar na vida. Não tem mãe que gosta de filho feliz? Quando o filho está bem, toda mãe vira uma megera que só fala bobagem e enche o saco?
Outro ponto positivo da peça foi ter me colocado para pensar depois que ela terminou. Saí do teatro pensando para que serve uma mãe. Se não for para fazer a gente se sentir culpado, para que será? Precisei inventar um neologismo: para mãezar. Mãezar é estar junto, concordando ou discordando. É cuidar se algo deu errado, mas, também, se possível, não esperar para ver o filho se dar mal. Quem mãeza tenta antecipar os problemas. Quem mãeza sempre inventa um jeito novo de brincar.
Domenico Riolfi Barzotto, nascido em 2000, é aluno do 8º ano do Colégio Ítaca, em São Paulo-SP.