Pouca roupa, muita atitude 25/09/2012

Por Dorothee Rüdiger

Marcha das vadias no interior de SP e chegada do grupo Femen ao Brasil mostram como as novas feministas fazem do corpo uma bandeira para ganhar voz

Nada de queimar sutiã. De minissaia, cinta-liga e seios de fora, mulheres saíram às ruas em 28 de julho, para protestar contra uma sociedade machista, que as rotula como santas ou prostitutas. Era a marcha das vadias. Após a primeira edição no Canadá, em 2011, o protesto irreverente não demorou a tomar as grandes metrópoles, até chegar ao interior de São Paulo – mais precisamente, São José do Rio Preto, cidade que registra altos índices de violência contra a mulher. 

As manifestações não pararam por ali. No dia seguinte, na capital paulista, em pleno vão livre do MASP, o grupo feminista ucraniano Femen desembarcou no Brasil. Jovens seminuas, cuidadosamente maquiadas e com as cabeças coroadas de flores, interromperam o dolce fa niente dominical para protestar contra a lei que proíbe os partos em casa. “Liberdade”, está escrito em sua pele. O Femen, grupo que, sob o signo da cora de flores e dos peitos nus “mete o nariz em tudo”, chegava com estardalhaço ao país. Censura e processos por pornografia as aguardavam – e uma multidão de fotógrafos também.

De espetáculo elas entendem, de contundência também. Afinal, o querem essas ativistas que povoam a sociedade global, da Ucrânia a São Paulo, de Toronto a São José do Rio Preto? Chamar atenção, claro! Mas, será que elas são histéricas que gostam de se mostrar e de provocar a autoridade, para depois serem chamadas à ordem? Só o tempo dirá.

Um espectro ronda o planeta – o espectro de um novo feminismo. Esse espectro chacoalha o mundo apoiado nas redes sociais, e junta política e sexualidade. As ativistas não têm medo de enfrentar temperaturas geladas, olhares, preconceitos. Elas se vestem, despem e se fazem de objeto, para, paradoxalmente, deixarem de ser objeto, para ganharem voz. Fazem do corpo uma bandeira para defender o que lhes é sagrado e que, no fundo, não tem nome.

Aguardem! O século XXI apenas começou.