Por Italo Venturelli
Novos estudos evidenciam cérebros masculinos e femininos. Diferenças à parte, temos escolhas
Ah, essa pequena diferença! Dá o que falar desde o primeiro exame de ultrassom. “É homem!” “É mulher!” A diferença é visível e, para Sigmund Freud, é “destino”. Somos homens ou mulheres, porque temos órgãos sexuais diferentes e, por isso, distintas posições na cultura. Se o neurologista vienense Dr. Freud estivesse vivo, seguramente se interessaria pelos estudos científicos contemporâneos que demonstram que não somente nossos órgãos sexuais, nossos genes e hormônios não são iguais: homens e mulheres têm também cérebros diferentes.
Atualmente, estudamos as diferenças entre o cérebro do homem e da mulher por meio de novas técnicas de exames e análise estatística das medidas volumétricas. Utilizamos o pet scan, a ressonância funcional e técnicas de análise do volume cerebral por softwares específicos.
Temos máquinas que têm a capacidade de mostrar em cores brilhantes regiões do cérebro que estão em funcionamento. Visualizamos alterações em várias áreas da cognição, do comportamento, da memória, emoções, visão, audição, processamento visual de rosto, de objetos geométricos, resposta do cérebro ao stress, linguagem, entre outras. São muitas as diferenças observadas no cérebro de um homem e de uma mulher.
As mulheres possuem densidade maior de neurônios em áreas do córtex do lobo temporal e frontal, associadas ao processamento e à compreensão da linguagem. Essa diversidade anatômica pode ser causada, em grande parte, pela atividade dos hormônios sexuais que banham o cérebro do feto, por esteroides que coordenam as conexões cerebrais durante o desenvolvimento de regiões do cérebro. As diferenças sexuais são biológicas.
O cérebro feminino tende a ser mais organizado para dar conta da linguagem, daí as mulheres costumarem se dar melhor em testes de fluência verbal. A coordenação motora fina é melhor. No cérebro feminino, a marca é a empatia. Já o cérebro masculino, sob a influência do hormônio testosterona, desenvolve mais a inteligência espacial.
Mas, será que essas “pequenas diferenças”, cada vez mais no plural, são realmente “destino”? Para a psicanálise, é essa a questão que se coloca. Jacques Lacan dedicou seu Seminário XIX, intitulado …ou pior, ao assunto das diferenças e divergências entre os sexos. Logo de início, deixa bem claro que nunca negou as diferenças orgânicas entre os sexos. Somos diferentes, sim, por nascença. A questão é quem faz a distinção. Os meninos e as meninas não se reconhecem como pequenos homens e pequenas mulheres. Quando crescem sob a influência da cultura, da linguagem, aí sim, distinguem-se. A cultura promove estudos científicos e identificações.
Por isso, diferenças à parte, ninguém é mais ou menos inteligente. Homens e mulheres podem ter cérebros organizados de formas diferentes e, portanto ter habilidades diversas. A questão para a psicanálise é: o que fazer com isso? O que fazer com o corpo que inclui órgãos sexuais, genes, hormônios e cérebros? Nessa questão não há destino. Há mil e umas possibilidades que podem fazer com que um homem opte por ser um escritor e uma mulher uma engenheira. Quem vai impedir?
Italo Venturelli é neurocirurgião, psicanalista e Diretor do Hospital Regional do Sul de Minas Gerais.