Por Dorothee Rüdiger
No meio do caminho tinha um pedra
Berlin 2012. Um artista plástico, filho da cidade, não para de causar polêmica incrustando pedras de memória do holocausto nas calçadas. As pequenas placas dividem as opiniões. São marcas de um muro invisível que é difícil de esquecer.
Há uma pedra, duas pedras, três, quatro, centenas de milhares de pedras no meio do caminho. Ladrilhos de latão plantados nas calçadas. Para o olhar atento, cada qual revela um nome, uma data de nascimento e, muitas vezes, uma profissão. Narra a história de um ser humano que nasceu, cresceu, amou. E denuncia o nome de sua morte: Auschwitz, Auschwitz, Auschwitz…
Em Berlin e em outras cidades europeias, há, no caminho, pedras que tocam pedras de toque. Stolpersteine. Tocam a morte dos vizinhos, cuja vida foi reduzida a pó e cuja morte foi diluída numa cifra: 6,3 Milhões. Judeus, ciganos, socialistas, testemunhas de Jeová, deficientes físicos, homossexuais, doentes mentais, mortos pelos seus vizinhos e concidadãos nazistas.
As pedras criadas pelo artista plástico Gunter Demnig são minúsculas lápides. Lembram a morte de uma criança, de uma mãe, de avós, tios, de parentes com nome e sobrenome. Lembram a data, na qual cada um foi preso, humilhado, deportado, reduzido à matéria, escravizado, morto, incinerado e dado baixa no registro em nome da razão do Estado alemão, em nome de um projeto político, em nome do futuro. As pedras no meio do caminho dão a dimensão do quanto o Estado é uma máquina violenta! Nas mãos de bandidos inescrupulosos, então, o poder público é mortífero. Exercido de maneira irresponsável, é assassino, ontem e hoje.
Fazer tropeçar em “lápides” na calçada é, para muitos, politicamente incorreto. O projeto artístico provoca debates e processos. Quem olha com sensibilidade para as pedras se curva, se toca, rende homenagem. Percebe a presença silenciosa na calçada de quem já teve seu lar na casa em frente. Assim, o artista consegue devolver a cada um junto com o nome a humanidade. Vai ladrilhando o caminho com pedras que brilham e chamam para, quem sabe, possa passar um novo amor.