Paternidade participativa 25/08/2016

Por Patricia Furlan

É função de um pai legitimar as escolhas de um filho na vida. Enquanto a mãe autoriza, o pai legitima, afirma o psicanalista Jorge Forbes

Quem não lembra do comercial dos anos 80 “Não basta ser pai, tem que participar”? O filho acordando o pai num domingo de manhã, para que esse o acompanhe no seu jogo de futebol…

Durante o jogo, ele fica aflito, na reserva, mas acaba entrando sempre acompanhado pelo olhar coruja do pai. Tão logo cai, e seu pai corre da arquibancada ao campo para socorrê-lo. Após esse cuidado e atenção do pai, o filho marca um gol.

Neste comercial, trata-se de um pai que diante de um impasse decisivo que o filho precisa resolver, lhe fornece a condição necessária para que ele acredite, arrisque e realize um sonho. É função de um pai legitimar as escolhas de um filho na vida. Enquanto a mãe autoriza, o pai legitima, afirma o psicanalista Jorge Forbes.

Um pai que participa faz a diferença na vida de um filho. E mais, marca uma mudança do nosso tempo. Se, antes, a função do pai estava instituída de uma forma mais rígida e vertical – um  pai que trazia o sustento para a casa, chefe de família, a quem cabia a missão de educar – com a globalização o laço social mudou, a sociedade passou a se organizar de maneira horizontal, em formas múltiplas, em valores variáveis, na quebra dos modelos tradicionais. Surge um novo mundo e também um novo pai.

Neste novo mundo, a figura da autoridade máxima perde sua referência: na família, o pai; na empresa, o chefe; no país, o presidente, símbolos de um passado não tão distante. O “novo pai” passa a exercer a sua função com  flexibilidade trazendo apoio às decisões dos filhos. Apoio, pois um filho precisa poder contar com a certeza do amor de seu pai para enfrentar as incertezas da vida; flexibilidade, pois o filho precisa sentir nesse pai, que não deixará de ser mais, ou, menos amado pelas decisões que tomar em sua vida, chamando para si, a missão educadora e formadora de pai.

Mas um pai que participa não pode ser confundido com pai amigo. Há momentos sim, que é possível ser amigo do filho, mas nem sempre. Porque há momentos que esse filho precisa ter nesse pai um orientador, alguém que marque uma diferença. Enquanto o mundo se perde lá fora, os valores se desfazem a sua volta, o filho tem no pai, o apoio, a flexibilidade e a sua possível legitimação.

O ideal de uma relação transparente, onde o “entendimento” resolve os impasses engana: “Conversando a gente se entende”. Não! A lógica de que, “se conversarmos mais, nos entenderemos mais”, na maioria das vezes, não é de boa ajuda na educação dos filhos. Muitos pais buscam a compreensão de seus filhos frente a sustentar o espinhoso “não” a ser dado; querem ser compreendidos, onde muitas vezes, o que se faz necessário é a ausência da explicação.  Jorge Forbes ressalta:  “A melhor herança que um pai pode deixar ao filho não é o seu ouro, não é uma viagem à Disney, ou sequer o esforço para pagá-la. É o limite da compreensão, um arbitrário, o cultivo de um silêncio necessário entre as gerações”. 

Patricia Furlan é psicanalista em Piracicaba-SP e membro do Corpo de Formação do IPLA.

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