Parcerias bem-sucedidas: o que podemos aprender com elas? 26/03/2015

Por Suelen Gregatti da Igreja

Os efeitos da parceria entre a prefeitura e a comunidade se fizeram cada vez mais visíveis e consolidados com o passar do tempo. O que teria permitido uma relação bem-sucedida?

Entender como funciona um trabalho em parceria pode, a nosso ver, trazer benefícios a educadores e, porque não dizer, àqueles que desejam construir relações produtivas em suas vidas. Foi em busca de um exemplo ilustrativo de uma parceria bem-sucedida que nos deparamos com os resultados da negociação realizada entre a prefeitura de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e a Liga Independente das Escolas de Samba (LIESPF) da cidade, que culminou em um sucesso de público – mais de 8 mil pessoas – e em benefícios para a população – com melhorias na educação e na saúde.

O sucesso da parceria pôde ser observado depois de dois anos de trabalho conjunto. Em 2013, assim que o carnaval terminou, a prefeitura e a instituição responsável pela organização do evento reuniram-se para fazer um balanço da festa. Concluíram que a verba pública destinada ao carnaval – 400 mil reais – não cobria todas as despesas e, ainda, limitava a arrecadação de investimentos privados. Se, para a prefeitura, não era possível aumentar o repasse, o que fazer?

Diante dessa indagação, a prefeitura e a LIESPF decidiram pela desvinculação financeira entre elas. Assim, a Liga abriu mão da verba pública que lhe era destinada, apostando em conseguir, com um ano de trabalho, angariar patrocinadores suficientes para promover o carnaval. E, da parte da prefeitura, passaria, a partir de 2014, a atender outras demandas.

A população saiu ganhando. No ano passado, com a compra e a instalação de 400 aparelhos de ar-condicionado em escolas da educação infantil municipal e, este ano, com a construção de um Centro de Referência à Saúde da Mulher. Ainda este ano, com a ampliação dos investimentos feitos pelos patrocinadores, 20% da arrecadação com os ingressos vendidos foram destinados a uma instituição responsável pelo atendimento de pessoas com deficiência intelectual.

O que percebemos com o exemplo aqui relatado é que os efeitos da parceria entre a prefeitura e a comunidade se fizeram cada vez mais visíveis e consolidados com o passar do tempo. O que teria permitido uma relação bem-sucedida? A nosso ver, três atitudes: 1) Jogar limpo, apresentando, sem titubeações, os problemas vivenciados, para buscar uma solução que possa ser efetiva; 2) Agir com coragem, afinal, mesmo que se calcule minimamente os efeitos de uma ação, não é possível prever como será recebida pela comunidade ou pelos pares, em especial, se se trata de algo novo; e 3) Estabelecer lugares e papéis bem definidos, evitando disputas ou, ao menos, possibilitando localizá-las rapidamente enquanto tal, evitando a perda de tempo de fazer duas ou mais vezes a mesma coisa e permitindo colaborações mais ágeis com o trabalho do outro.

O resultado da mistura dos três elementos que acabamos de descrever parece ser, como visto no exemplo de Passo Fundo, o contágio de outras pessoas que se envolvem na busca por uma continuidade no trabalho. O “efeito colateral”, por assim dizer, parece ser o afastamento quase que natural do que possa atrapalhar – seja por sua resolução rápida, seja pela percepção de que, onde há trabalho, não há espaço para intrigas. A quem deseja, portanto, estabelecer parcerias que tenham a possibilidade de serem bem-sucedidas, seja para a formação das novas gerações, seja para um trabalho frutífero, fica a dica. Inspirem-se!

Suelen Gregatti da Igreja é doutoranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e professora de Língua Portuguesa.