Por Alain Mouzat
Medicina antienvelhecimento e desenvolvimento genético testam limites naturais do corpo humano, e diluem nossas referências sobre a morte
O corpo humano mudou, e suas capacidades se ampliaram. Nas Olimpíadas de Londres, o jamaicano Usain Bolt desafiou os parâmetros de velocidade e assombrou o mundo ao percorrer 100 metros em 9,63 segundos. Longe das arenas esportivas, os avanços na área de saúde também colocam à prova os limites do corpo e renovam nossos ideais de imortalidade. A expectativa de vida não para de aumentar: os atuais 70 anos devem subir em breve para 80. Logo, logo, poderemos esperar viver 100 ou 120 anos.
Tratamentos milagrosos prometem nos ajudar a enfrentar a passagem do tempo sem sucumbir ao declínio fisiológico. Envelhecer jovem é possível, dizem. Exercícios, hormônios, dietas e suplementos vitamínicos ajudam a manter um corpo atlético, e atravessar as décadas com a mesma vitalidade de 30 anos atrás. Já existe até uma especialidade que combate os efeitos da idade avançada: a medicina anti-aging. Incrível.
Recentemente, a Globo apresentou uma extensa reportagem sobre os adeptos da medicina anti-aging no Fantástico. Notei que os homens eram a maioria dos entrevistados. As mulheres talvez prefiram as cirurgias plásticas. Uns buscam mais vigor; outras se concentram na aparência.
O desenvolvimento da genética também expande a potencialidade do corpo humano. Ninguém duvide que, no futuro, por meio das células-tronco, poderemos regenerar nossos órgãos e tecidos em laboratório, uma perspectiva que faz as receitas da medicina anti-aging parecerem práticas de curandeiros.
Tudo contribui para diluir nossas referências dos limites e da morte.
Mas o que nos está sendo oferecido não convence, há sempre algo destoante. A performance olímpica deixa mais claro ainda o destino ao qual é relegado o vulgus, enquanto que a medicina anti-aging é um prato que serve mais para quem está pronto a se escandalizar com a tolice dos outros – seria mesmo possível envelhecer jovem? Já as perspectivas da genética provocam calafrios éticos, mostrando que a fisiologia não é a única dimensão do corpo.
A essas dimensões não escaparão nem o corpo do atleta construído na disciplina da prática esportiva, nem o corpo maquiado pelas cirurgias, nem a mecânica envenenada do corpo tunado pelas fórmulas do anti-aging. Assim, cada um terá de responder pela invenção de um estilo singular de usufruir de seu corpo e de sua vida, como escreveu Jorge Forbes.