Oásis 17/03/2016

Por Caetano Imbo

Oásis é o segundo livro de Caetano Imbo e foi lançado no dia 12 de março, no IPLA

A psicanálise, para muitos, é um oásis. Leva à “outra cena” em meio à travessia do deserto  do dia-a-dia e abre para a ressonância. Da psicanálise pode nascer a poesia.  Não poderia haver um local mais adequado que o Instituto da Psicanálise Lacaniana, onde trabalho,   para o lançamento, no dia 12 de março, de meu mais novo livro que intitulei Oásis,  com direito a  boa comida e bebida, como convém servir num oásis.

O livro  Oásis surge a partir das reflexões feitas sobre o novo momento histórico vivido por Guiné Bissau depois de sua independência ocorrida em 1973. O país ganhou ao longo dos 42 anos  de sua existência enquanto Estado independente um fio  esbranquiçado por anos pelas mazelas cometidas, agora, pelos próprios filhos da terra.

Outrora  os mais velhos  podiam dizer que a culpa pelos problemas políticos e sociais  era dos que invadiram e exploraram a nossa pátria. Mas hoje não podemos continuar repetindo isso, porque são os próprios governantes e uma parcela da sociedade civil que desconsideram a ética.

A sociedade guineense atual, de maneira geral, tornou-se refém da memória dos seus entes queridos, daqueles que se embrenham numa luta insana e ferrenha pelo poder. Em nossa  sociedade, a capacidade de interlocução e o progresso ficaram atravancados no tempo, assim como o desenvolvimento social, humano e político. Por isso, a reflexão, apesar de difícil,  precisa ser feita. Assim, quem sabe, os responsáveis pela administração do país deixem de olhar somente para seus umbigos e ignorar o povo de Guiné-Bissau.

Oásis é meu segundo livro. Olho daqui, do Brasil, de São Paulo,  em direção à Gui­né lembrando das dificuldades cotidianas de meu  país dilacerado pela guerra. Vejo em muitos aspectos a profunda dissonância vivida pelos brasileiros decorrentes das desigualdades sociais e culturais  que aqui também existem. Minha pretensão é criticar os valores éticos dos guineenses, suas atitudes na esfera pública e privada. Tento tomar cuidado para não generalizar. Em meus contos aparece não somente a crítica ao posicionamento da  geração dos mais velhos: a figura do pai perverso, o pai de fa­mília parasita que trai a esposa, o pai que não cumpre um acordo e trai o amigo. Aparecem também as atitudes dos jovens: de um  político corrupto, de um jovem que se aproveita de favores de cole­gas sem se preocupar com o que vai acontecer no futuro e dos funcionários públicos que abusam de seu cargo para assediar meninas que caminham pela rua. Pretendo transmitir, enfim, que a decisão de fazer do próprio país um  deserto ou um Oásis está nas mãos de cada um de nós.

Caetano Imbo, de nacionalidade guineense, é bacharel licenciado em letras pela USP, professor, artista plástico e funcionário do IPLA. 

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