O que podemos esperar dos governantes? 10/01/2013

Por Alain Mouzat

Ser prefeito de uma cidade exige mais ação e menos esperança. Tudo sem perder a confiança na capacidade de inventar novos caminhos para uma arte que Freud classificava como impossível: a de governar

No dia 1º de janeiro, tomaram posse os prefeitos eleitos ou reeleitos no Brasil. A data responde a um imperativo burocrático, mas não deixa de reforçar a dimensão imaginária de que pode haver um novo começo, que daqui para frente tudo vai mudar, que dessa vez é diferente…  Assim como o ano, as esperanças se renovam. “Há amor em São Paulo”, afirmou Fernando Haddad na cerimônia de posse.

“Esperem o que vocês quiserem”, responde Lacan à pergunta kantiana que lhe é proposta em Televisão: “O que posso esperar?”. Será que não há mais nada a esperar e que toda esperança é vã?
A resposta de Lacan não é, obviamente, a premissa que alimenta a fé num futuro melhor, mas prefiro tomá-la como um aviso: a esperança é do domínio do desejo, e depende de nós não deixar nossos desejos ao sabor da expectativa de que a simples passagem do tempo mude as coisas. Mais ação, menos esperança.
As promessas também seguem a lógica de adiar tudo para um tempo melhor, para outros dias que virão… A fé no futuro alimenta as promessas de Ano-Novo e de candidato.
As promessas de Ano-Novo não cumpridas vitimam apenas quem as fez; a ninguém mais interessa o fato de que você não conseguiu acordar mais cedo ou praticar exercícios como gostaria.  Já as promessas de candidato, com frequência, só afetam os que nelas ousaram acreditar. Quem teria a coragem de um Winston Churchill para oferecer “ apenas sangue, sofrimento, lágrimas e suor”? É mais fácil sair pela tangente. “Legislativo não é obstáculo ao poder imperial do chefe do Executivo. Muito pelo contrário, é aquele poder representado pela vontade popular”, prometeu Haddad aos seus vereadores.
Tomar posse de uma administração municipal exige mais ação e menos esperança. Tudo sem perder a confiança na capacidade de inventar novos caminhos para uma arte que Freud classificava como impossível, pois seu resultado é sempre insatisfatório: a de governar.