Por Emari Andrade
É possível ser um atleta profissional, sustentando um corpo fora das medidas padrões?
O “respeito às diferenças” é um tema que vem ganhando destaque em vários setores da nossa sociedade. Contraditoriamente, vivemos também na era do “idem” – em que impera um movimento do igual, do padrão. Roupas iguais, hábitos iguais, corpos iguais. É pena! Provavelmente, seríamos mais serenos, mais autênticos e mais humanos se, ao invés de colarmos em modelos hollywoodianos de beleza, por exemplo, nos inspirássemos na sustentação da diferença essencial, tal como mostra-nos a tenista norte-americana Taylor Townsend, de 18 anos.
Em 30 de maio, a história da jovem tenista foi alvo de um artigo, redigido por Felipe de Queiroz, no site do canal de esporte ESPN. Sob o título de “Gordinha e excluída, a americana fora dos padrões em Roland Garros”, a reportagem focaliza o que, no mundo de um esporte como o tênis, parece ser impossível de acontecer: conseguir ser um atleta profissional, sustentando um corpo fora das medidas padrões desse tipo de esporte.
O artigo alega que o padrão imagético de uma boa tenista (alta, magra e atlética) dita as regras do esporte a tal ponto que quem não consegue ser à imagem e à semelhança dos outros está fadado ao destino de ser pária. Taylor Townsend, por exemplo. Como destacado pelo jornalista do ESPN, dada sua estrutura corporal, se Townsend fosse vista na rua, longe de uma quadra de tênis, dificilmente alguém a reconheceria como uma das 128 atletas do principal torneio de tênis do mundo, o Roland Garros.
Mesmo quando era número 1 juvenil, em setembro de 2012, perdeu o patrocínio United States Tennis Association (USTA), pois, segundo a associação: “Como uma atleta gorda poderia estar no auge?”. Ela, inclusive, chegou a receber a recomendação de não disputar o US Open juvenil daquele ano para concentrar seus esforços na perda de peso.
A atleta não cedeu de seu desejo. Joga tênis. Bancou o torneio com suas próprias economias e dobrou o ritmo de treinamentos. Mostrou pouco se importar com os predicativos que lhe atribuem, tais como “gordinha” e “peixe fora d´água em grandes eventos”.
Resultado? Taylor transformou a descrição “estar fora dos padrões” em algo que pode descrever sua atuação nas quadras. Seu estilo de jogo foge à mesmice. Como descrito no artigo, Taylor destaca-se por seu “saque potente, estilo agressivo, golpes potentes do fundo de quadra e afeita a voleios (qualidade raríssima entre as mulheres)”.
Entendemos que é nessa diferença que a tenista se apoia para seguir treinando diariamente, mesmo quando alguns, como é o caso de Felipe de Queiroz, afirmem que ela “tenha nascido no corpo errado”. Townsend entendeu bem que o corpo biológico não é um fator determinista com relação àquilo que desejamos ser.
Faz-nos pensar que, como colocado por Jacques Lacan, em seu Seminário 11, é possível trabalhar para sustentar o seu desejo de obter a diferença absoluta.
Emari Andrade é professora de língua portuguesa, faz doutorado em educação na Universidade de São Paulo e é monitora do curso online do IPLA.