O prazer de jogar e o prazer de cuidar 30/06/2013

Por Italo Venturelli

A surpresa, o humor, o raciocinar sob pressão e a consequência são elementos analíticos presentes nos jogos, além de ingredientes fundamentais para um fazer clínico criativo 

O Brasil está representado na Rússia, neste mês de julho, na final da competição mundial promovida pela Microsoft, que premia projetos pioneiros de tecnologia aplicados à saúde e educação. A equipeOniria Games for Health Brazil, da faculdade Pequeno Príncipe de Londrina, no Paraná, chegou à final com o desenvolvimento do game InsuOnline. O jogo visa capacitar médicos de unidades básicas de saúde e estudantes de medicina para o tratamento de Diabetes Mellitus. Considerada a epidemia do século, afeta cerca de 246 milhões de pessoas em todo o mundo.

Seguindo a tendência de inovação promovida pela tecnologia móvel, através dos princípios da descentralização, do compartilhamento e da quebra de barreiras, médicos e estudantes dos cursos de Medicina e Tecnologia de Informação se envolvem em projetos de criação de games visando a promoção de políticas e práticas de saúde mais interativas.

Na condição de neurologista, praticante da psicanálise e jogador de xadrez observo que a surpresa, o humor, o raciocinar sob pressão e a consequência são elementos analíticos presentes nos jogos, além de ingredientes fundamentais para um fazer clínico criativo.

Nos jogos, a competição produtiva, o desafio, a satisfação, o ganhar e o perder são ingredientes subjetivos que, se aplicados nos tratamentos com pacientes que têm a difícil tarefa de levar a cabo o uso de medicação contínua, estimulam a tomada de decisão, a autonomia, a simplificação e a implementação do cuidado da saúde. Articular dados e saber combiná-los, verificar a assertividade, tirar da inércia, privilegiar a sutileza e especificidade de cada partida são ingredientes dos jogos e correlatos fidedignos com a atuação clínica.

Avalio importante que na experiência do cuidado da vida a graça e o prazer estejam envolvidos, bem como a implicação e a consequência. Quando se consegue despertar algum afeto, no médico e no paciente, se empresta ao tratamento um status além do princípio curativo. Que tal vivência tenha efeitos na memória e no corpo. Verifica-se essa possibilidade no brincar da criança e na paixão dosgames, experiências de satisfação que contribuem para a evolução do ser humano numa vida mais integrada com seu mundo, e possivelmente mais feliz.

Italo Venturelli é neurocirurgião, psicanalista e Diretor do Hospital Regional do Sul de Minas Gerais