O papel do professor em grupos de pessoas altamente inteligentes 07/04/2014

Por Mariana Ribeiro

Qual é o papel de um professor em uma sociedade cujas pessoas possuem QI (quociente de inteligência) “alto”, entre 130 a 150?

O curta DNA Dreams aponta caminhos, mostra sonhos e ideais e levanta muitas polêmicas. Retrata pesquisas acerca do DNA humano, realizadas na China, cujo intuito é produzir pessoas mais inteligentes. Destaca-se, sobretudo, um mapeamento genético que está sendo conduzido por um jovem de 17 anos, Zhao Bowen, em pessoas que possuem QI (quociente de inteligência) “alto”, entre 130 a 150. A ideia parece ser mapear geneticamente esses indivíduos para “produzir” outros de igual inteligência.

Devido ao conteúdo, não podemos assisti-lo sem nos posicionar. Como educadora, a primeira dúvida que me coloco é: Qual é o papel de um professor em uma sociedade programada geneticamente para ser assim? Não creio que esse papel mudasse. Grosso modo: compreender a realidade do aluno; propor novas abordagens pedagógicas dos conteúdos; e proporcionar desafios (motivadores e críticos) condizentes ao seu aluno.

Destaca-se, desse contexto, a necessidade de repensar o que seria “condizente” ao aluno em uma sociedade de pessoas superinteligentes. Diante de um quadro “x”, é sempre necessária uma mudança. Uma mudança trazida pelo novo. Então, a pergunta parece se alterar para: nessa China que se perfila no documentário, qual é o papel do “velho”? Seria, ainda, o de transmitir às novas gerações o legado cultural? No DNA Dreams, a resposta que se perfila é negativa. Aos pais desta nova sociedade, caberia escolher ou não este atributo para seu filho.

A posição dos pesquisadores é, no mínimo, curiosa. Um deles, por exemplo, não disfarça um tom de saudosismo e de lamento por não poder ser ele um beneficiário direto de suas pesquisas. Na China do DNA Dreams, há uma positivação do que é novo a tal ponto que nos lembra o comportamento de uma neurótica histérica. A insatisfação perdura e a busca pela novidade parece ser imotivada. Parece que a função atribuída às gerações precedentes é, apenas, a de gerar a atual, ou seja: garantir a existência da novidade. Um dos pesquisadores afirma que “os melhores seres humanos ainda não foram produzidos”. Outro destaca que as novas gerações viverão mais e melhor. Em outro momento do vídeo, é destacado o fato de que a maior parte dos pesquisadores dos laboratórios que conduzem pesquisas sobre genética tem, no máximo, 30 anos etc. Enfim, paira um tom de que o melhor tempo é o futuro.

Agora, curioso, mesmo, é que uma sociedade tão preocupada com a inteligência indague tão pouco. Em nenhum momento, há um questionamento sobre o que ela é. Muito menos, discute-se se testes de QI são ou não válidos para “medi-la”. Ao contrário do que parece, portanto, caso essa sociedade se concretize, os professores se tornarão ainda mais necessários. Caberia a eles o papel de questionar, desestabilizar e não deixar os alunos permanecerem escravos dos rótulos dados a eles (inteligente, burro, incapaz de aprender, pior aluno etc.). Afinal, quanto mais aumenta o controle social, mais aumenta a responsabilidade subjetiva.

Mariana Ribeiro é professora de língua portuguesa e faz doutorado em educação na Universidade de São Paulo