O medo é um mau conselheiro 14/02/2013

Por Liége Lise

Nas campanhas contra abuso de drogas, apostar na certeza do pior é reforçar tendências reacionárias e moralistas, que levam ao retrocesso e não trazem respostas originais
Não adianta insistir no velho mantra: “Drogas fazem mal”.  Um estudo feito pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, afirma que o uso de mensagens negativas tem pouca eficácia junto aos dependentes químicos. Segundo o pesquisador Joshua Brown, as campanhas anti-drogas que se valem de apelos trágicos e do temor como estratégia para frear o comportamento autodestrutivo, a exemplo das imagens assustadoras estampadas nas carteiras de cigarro, não resultam em uma mudança de atitude efetiva. Ele sugere alterar o enfoque dessas ações, e destacar as vantagens de se livrar do vício. 
 No prefácio do livro Famílias, amo vocês, Luc Ferry afirma que “o medo se tornou uma das paixões dominantes das sociedades democráticas.” Em um tempo de mudanças radicais na forma como construímos nossa vida amorosa, familiar, profissional e social, o medo passou a ser um orientador das nossas ações. Por vezes conselheiro particular, o medo reverbera também em discursos religiosos e jargões do politicamente correto, que reforçam a prudência e cautela na tomada de decisões. 
 A pesquisa norte-americana aponta que nós respondemos melhor ao apelo do desejo do que ao da necessidade previdente. Implicar e responsabilizar a pessoa por suas escolhas vem ao encontro de uma posição ética. A relevância social desse estudo pode direcionar políticas públicas mais eficientes no tratamento dos dependentes químicos. 
 Apostar na certeza do pior é reforçar tendências reacionárias e moralistas, que levam ao retrocesso e não a respostas originais. Melhor é buscar soluções criativas, que incluam o risco e a aposta na construção da vida.