Por Dorothee Rüdiger
No brinquedo do amor, sempre vai faltar uma pecinha
O amor é um jogo. Assim cantam os artistas. Que esse jogo necessite de brinquedos, ah, isso já é outro departamento. Para ser exato, os brinquedos do amor pertencem ao departamento comercial. Proliferam, no Brasil, lojas especializadas em, digamos, apimentar as relações sexuais dos brasileiros. Vendendo objetos que dizem serem infalíveis para brincarmos melhor esse jogo tão popular. Nas ruas, nos shoppings ou na internet, os sex-shops oferecem suas novidades no atacado ou no varejo, bem a gosto do freguês. Com nomes do tipo “desejo on-line”, atraem as pessoas com a promessa de que esses brinquedinhos podem fazê-las mais satisfeitos no sexo. Agora, para quem prefere uma produção mais caseira, há revistas femininas e páginas na internet que ensinam receitas de como se faz. Tudo isso para deixar o par mais “quente”. O sexo vem em kit, chega via correio empacotado, tem desconto e brindes.
Haja criatividade no jogo do amor! Impossível dizer o que vai rolar. Brincamos com nosso corpo desde crianças. Descobrimos, assim, desde cedo, maneiras de sentir prazer com o corpo. Mais tarde, apreendemos a brincar a dois o jogo do amor. Mas, esse jogo é desigual e angustiante, pois o parceiro não nos complementa, simplesmente porque é outro. Daí as fantasias, as poções, os ritos que acompanham os encontros amorosos, desde os tempos mais primórdios. Brinquedos do amor, kits eróticos e lingeries fantasiosas nos dão a impressão de conseguir, finalmente, satisfazer os desejos do outro. No entanto, o kit erótico não traz como brinde a completude com o parceiro. Dito em outras palavras: no brinquedo do amor, sempre vai faltar uma pecinha.
O que fazer? O jogo do amor requer que, feito crianças, sejamos capazes de inventar e reinventar nossas brincadeiras. Se precisamos de brinquedos para isso? Ah, isso fica ao gosto do freguês.
Dorothee Rüdiger é psicanalista e doutora em Direito pela Universidade de São Paulo