O jogar e o envelhecer 18/06/2014

Por Italo Venturelli

A alegria do brincar está além da razão, toca o corpo e provoca a criatividade

Nutre a mente somente o que a alegra (Santo Agostinho)

A longevidade tem impulsionado estudos a respeito de memória e atenção. Exercícios para o intelecto, dietas, complexos vitamínicos, atividade física, reposição hormonal e fórmulas mirabolantes. Atualmente, foram publicados alguns trabalhos na neurologia a respeito do uso de videogames e jogos de computador na terceira idade, demonstrando o benefício do uso de games para idosos. O jogo, além do brincar, do prazer lúdico que desperta, promove a sociabilidade, o raciocínio e o humor, deixando-nos mais espertos e despertos.

Os jogos estimulam ao mesmo tempo a visão, a audição, a motivação, a lógica, a atenção e os movimentos. Os jogos eletrônicos fazem com que o cérebro aprenda a formar novas conexões. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, revelou que videogames que combinam jogos com exercícios podem diminuir em até 50% a depressão em idosos (*).

O World of Warcraft, um jogo on-line, se passa em um mundo fantástico repleto de magia, mitos e batalhas épicas. Com efeitos gráficos incríveis, é um dos games mais populares, contando com mais de 11 milhões de jogadores. Ao longo da pesquisa, foram estudados, durante 14 dias, idosos que praticaram a atividade. Nesse período, os idosos jogadores fizeram exames pré e pós  prática do game. Os resultados demostraram uma melhora principalmente na cognição dos idosos, que tinham se saído mal nos primeiros testes. Pacientes que se apresentavam completamente apáticos, restringindo-se apenas ao cumprimento da rotina diária, demostraram maior desenvoltura em suas atividades e ampliaram seu leque de interesses.

Quando introduzida a simulação com jogos, perceberam-se que as questões emocionais são as mais difíceis de contornar, muito além das de memória. Alguns idosos muito inibidos, desconfiados do método, apresentaram falta de empenho, dificuldade quando perdiam os primeiros jogos e alguns outros, excessivamente competitivos, mostraram alterações do humor e irritabilidade. Outros ainda apresentaram rápida adaptação e capacidade de fantasiar, aderiram à brincadeira, aceitando mais rapidamente as regras para consecução do jogo. Do jogo para a vida, apresentaram mais autonomia e uma participação mais efetiva em outras atividades, antes excluídas de seu dia-a-dia.

Aposta, desafio, prazer são elementos presentes no jogo. O ser humano busca a satisfação na fantasia de um avatar, por meio dos desafios de cálculos, no ganhar e perder que remetem às situações do amor e da vida. O jogo atualiza a diversão, a competição e a amizade. Confirma que a alegria do brincar está além da razão, toca o corpo e nos faz mais criativos. “Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”.

Italo Venturelli é neurocirurgião e psicanalista. 

(*) http://veja.abril.com.br/blog/diz-estudo/