Por Alain Mouzat
A sociedade do espetáculo, desqualificando os discursos, joga o homem na pura imagem. Mas, é o seu corpo a imagem do homem
A aparência sempre foi sinônimo de mentira, de engano, de falsidade, de maquiagem… de mulher. Só Baudelaire para fazer um elogio da maquiagem, no contrapé de um ideal da natureza e de simplicidade que, nos diz ele, só nos leva a satisfazer nossas necessidades elementares, à brutalidade e ao crime…
Anti-moderno, Baudelaire se debatia com um século de positivismo, de fé no progresso e de verdade científica valendo para todos. Duas guerras mundiais depois, o mundo teve que dar mão à palmatória: a verdade pode ser validada em áreas específicas do conhecimento, mas não pode valer para o homem enquanto tal.
Continuou-se a denegrir a aparência: sociedade do espetáculo, que, desqualificando os discursos joga o homem na pura imagem. Mas é o seu corpo, a imagem do homem. Nesse contexto, será Pitanguy simples produto mercadológico de circunstâncias ou gênio precursor? Sinal dos tempos: de um passou para outro. Acabou na Academia Brasileira de Letras.
Ironia? Não.
Para quem achava que atrás da aparência estava a “realidade, uma verdade pelo menos crível e na qual podíamos nos sustentar, Pokémon só veio dizer: “a sua realidade não tem mais consistência do que aquela que você lhe atribui”.
Versão contemporânea do malin génie.
Alain Mouzat é professor da Universidade de São Paulo, doutor em linguística, psicanalista e membro do Instituto da Psicanálise Lacaniana.
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.