O império da imagem, de Pitanguy a Pokémon 11/08/2016

Por Alain Mouzat

A sociedade do espetáculo, desqualificando os discursos, joga o homem na pura imagem. Mas, é o seu corpo a imagem do homem

A aparência sempre foi sinônimo de mentira, de engano, de falsidade, de maquiagem… de mulher. Só Baudelaire para fazer um elogio da maquiagem, no contrapé de um ideal da natureza e de simplicidade que, nos diz ele, só nos leva a satisfazer nossas necessidades elementares, à brutalidade e ao crime…

Anti-moderno, Baudelaire se debatia com um século de positivismo, de fé no progresso e de verdade científica valendo para todos. Duas guerras mundiais depois, o mundo teve que dar mão à palmatória: a verdade pode ser validada em áreas específicas do conhecimento, mas não pode valer para o homem enquanto tal.

Continuou-se a denegrir a aparência: sociedade do espetáculo, que, desqualificando os discursos joga o homem na pura imagem. Mas é o seu corpo, a imagem do homem. Nesse contexto, será Pitanguy simples produto mercadológico de circunstâncias ou gênio precursor? Sinal dos tempos: de um passou para outro.  Acabou na Academia Brasileira de Letras.

Ironia? Não.

Para quem achava que atrás da aparência estava a “realidade, uma verdade pelo menos crível e na qual podíamos nos sustentar, Pokémon só veio dizer: “a sua realidade não tem mais consistência do que aquela que você lhe atribui”.

Versão contemporânea do malin génie.

Alain Mouzat é professor da Universidade de São Paulo, doutor em linguística, psicanalista e membro do Instituto da Psicanálise Lacaniana.

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