O eterno dilema 25/10/2012

Por Suelen Igreja

No segundo turno das eleições na maior cidade do país, qual o peso da responsabilidade?

Na bela voz de Clara Nunes, já estava a marca de um peito cheio de promessa. Era só. Nada mais. É assim quando alguém enuncia palavras, não mais que palavras, soltas ao vento. Desamarradas de um corpo que as sustente, que se responsabilize por elas, se parecem mais com “histórias” para boi dormir do que com a construção de uma narrativa.

E a narrativa a qual nos referimos é nada menos que as eleições da maior cidade brasileira, São Paulo. Às vésperas de encarar as urnas, em um pleto disputado por partidos historicamente antagônicos, a população paulistana fica dividida entre o lema da “hora de mudar” e o da “história honrada”. Afinal, onde estaria a responsabilidade de cada um?

Não estamos aqui abordando a responsabilidade no sentido de pagar pelo que se fez, como uma punição. Nos referimos ao sentido de sustentar todas as frases e palavras ditas, de usá-las considerando o seu peso. É o que Claudia Riolfi explica como “ter vergonha na cara”.

Pensando em termos de propostas eleitorais, isso significaria abandonar uma lógica utilitarista, na qual as propostas respondem, única e exclusivamente, ao que o candidato pensa serem as expectativas da população, e permitir que a ética do desejo, de sua implicação com a cidade, norteie suas ações.

Com as eleições do segundo turno se aproximando, a contagem regressiva começa e os candidatos apostam cada vez mais em ataques e promessas. É o que destacam os noticiários mais recentes. Entre ataques às falhas e às impossibilidades que um e outro enfrentaram ao longo de suas carreiras políticas, Fernando Haddad e José Serra, por vezes, parecem esquecer que, diante de uma pedra, não se fica olhando para o caminho. É preciso buscar novos trajetos para percorrê-lo, inventar um novo rumo. Afinal, sempre haverá pedras.

Por um lado, o eleitor se depara com as crescentes indicações feitas pela mídia de que o candidato tucano investe pesadamente em ataques a seu concorrente, às vésperas das eleições, amargando os índices pouco favoráveis. Por outro, se depara com outro candidato, petista, que questiona as críticas do oponente. Como diria Macunaíma: “Ai, que preguiça” … Preguiça de sair da dualidade entre bom e mau, da oposição entre elite e pobreza, dos velhos antagonismos que parecem não ter mais espaço em nosso tempo.

Vivemos em uma época na qual direita e esquerda muitas vezes se confundem. Os embates se diluem. As propostas se parecem muito. O que muda é a relação de cada um com a cidade. A forma como cada um entende a configuração de São Paulo. Diante das mudanças pelas quais a sociedade tem passado, fica a recomendação de Jorge Forbes, para quem, frente às múltiplas opções que se apresentam, é preciso inventar um futuro.

O que esperamos dos candidatos é mais ação, mais criação, mais responsabilidade, e menos blá-blá-blá.