Por Italo Venturelli
A experiência da finitude angustia, a quem ama e a quem cuida da vida no seu limite.
Umas das profissões mais importantes neste século XXI será a de cuidador. Serão milhões de idosos em todo o mundo que, com o advento de novos recursos tecnológicos e da medicina, cada qual com suas particularidades, apresentarão patologias diferenciadas e, em muitos casos, necessidades especiais. Diante desse cenário, quais as consequências para a saúde desses profissionais que, diariamente, precisam lidar com a experiência da finitude humana?
No âmbito hospitalar, o cuidado fica por conta de toda uma equipe de profissionais, que inclui médicos, enfermeiros, auxiliares, nutricionistas, fisioterapeutas, etc. O que temos observado atualmente é a fragilidade do sistema em relação à lida com os acompanhantes dos pacientes e com a judicialização da medicina. Tem-se a ideia de que sempre há um remédio a mais, um exame a mais, um procedimento a mais, uma intervenção cirúrgica a mais, um a mais que poderia ser realizado postergando o momento do fim. Eis o reflexo da negação da morte como uma experiência inexorável.
Diante do limite colocado pelo profissional, não é raro ele ser avaliado como se estivesse escondendo informação, de que houve algum erro clínico ou até mesmo de que é incompetente. Alguma coisa falhou. Algum medicamento faltou. Algum exame foi mal interpretado. Vários são os colegas médicos que, apesar de extremamente competentes, sofrem com o desgaste emocional de tais situações. Que consequências tem isso na saúde física e psíquica desses cuidadores? Buscam ajuda? O cuidador precisa ser cuidado! É preciso ouvi-los. O stress a que estão em contato é significativo, pois a morte é vista como uma inimiga oculta, vergonhosa, ferindo a onipotência do profissional.
As mortes ocorrem nos hospitais e em uma unidade intensiva cotidianamente. As equipes enfrentam escolhas difíceis. Muitos não se permitem emoções, chegando, em casos extremos, à depressão e à Síndrome de Burnoult, – caracterizada por “um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”. Para alguns colegas, não conseguir evitar a morte ou aliviar o sofrimento de uma pessoa remete-os à vivência de sua própria finitude, o que lhes causa um luto não consentido.
Trabalhar o luto, o reconhecimento das próprias limitações e das limitações da vida é fundamental para um cuidador. Jorge Forbes, ao ser entrevistado a respeito do tema da morte, afirmou: “A morte nunca é natural para o humano. Se fosse, não haveria velórios, nem enterros, nem dia de lembrança dos mortos. Não há morte conhecida e morte desconhecida – ela é sempre desconhecida – porque a morte, assim como o amor, não se entende… O que não tem nome, melhor se captura com o silêncio. Difícil a suportar, mas necessário.”
Italo Venturelli é neurocirurgião e psicanalista.