Por Andreza Rocha
Explicar o que é uma análise é, literalmente, coisa de criança!
– Me disseram que é uma fortuna e o fulano só faz cara de ovo, é verdade?
– Flor, é bem melhor, porque, quando se está no divã, nem a cara do cara a gente vê!
Diálogo de louco? Não, de gente feliz, de gente que já aprendeu que, para lidar com gente chata, o melhor a fazer é não dar consistência. Talvez, isso seja o que melhor caracteriza a análise e o analista lacaniano.
Um “cara” que não faz, não fala nada? Às vezes sim, às vezes não, mas com certeza, uma pessoa cujo contato faz com que uma conexão se sustente. Conexão? Sim! De você com os outros, com as coisas que são importantes para você, e, acima de tudo, com as partes de você mesmo que lhe são inteiramente desconhecidas. O tal da cara de ovo é capaz de chamar isso de o “osso de sua existência”.
Para que tomar posse do osso da existência? Retomando nossas raízes, trago o nordeste do Brasil. Quem, tendo essa ascendência, não ouviu vó ou tia dizerem: “Menina, come isso! Tem tutano!”? Uma pessoa precisa “ter tutano” para se sustentar no mundo sendo diferente de todas as outras; para não precisar ficar com cara de ovo.
Do osso que se rói com Lacan ao tutano que se saboreia, a gente vai ao analista para trabalhar. Dá um trabalho danado ser feliz. Ninguém sabe como se monta uma vida qualificada. Então, se você me pergunta como sua análise vai ser, o que posso responder com sinceridade é: nem imagino!
O trabalho, minha gente, em uma análise de orientação lacaniana, é customizado, singular. De algumas coisas a gente sabe.
– Não fica pedra sobre pedra;
– O que sobrar do que você foi será mais leve e mais firme;
– Você vai entender pouco e fazer muito;
– Todo mundo vai ver que você mudou, porque as transformações vão se escrever no seu corpo.
Provavelmente, a análise muda a forma de a pessoa morar dentro da própria pele. Deve ser por esse motivo que as pessoas vão te perguntar: “Menina, que que você fez para andar tão mais bonita?”
Andreza Rocha é mestre em educação pela Universidade de São Paulo e professora da rede municipal da prefeitura de São Paulo. Faz análise e é voluntária na Clínica de Psicanálise do Genoma Humano, como professora