Notas sobre o 33º Congresso Brasileiro de Psiquiatria 12/11/2015

Por Elisa Padovan Camillo

É importante que a prática do diagnóstico em psiquiatria não sucumba à soma dos sintomas e sim avalie a psicopatologia de cada caso a partir da escuta do paciente

Organizado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o 33º Congresso Brasileiro de Psiquiatria ocorreu de 4 a 7 de novembro, na cidade de Florianópolis (SC). A psiquiatria no mundo contemporâneo, tema do congresso, teve como principais assuntos discutidos: a depressão, o transtorno bipolar, a relação da espiritualidade e da psiquiatria, a justiça social para doentes mentais, os transtornos alimentares e o acesso ao tratamento das doenças mentais no Brasil. Além desses assuntos, vale destacar algumas tendências debatidas que refletem as preferências atuais dos psiquiatras contemporâneos.  

Dentre as predileções destacadas, o lançamento do novo antidepressivo – Vortioxetine –, aprovado em outubro deste ano no Brasil, captou a atenção de muitos congressistas interessados na ação da nova droga. A medicação promete melhorar os prejuízos cognitivos de pacientes deprimidos e, por mais incerto que isso seja para nossa prática, parece despertar bastante interesse em muitos psiquiatras.

Outros temas reuniram menor número de ouvintes, mas não deixaram para trás a importância de suas reflexões. Dentre as quais se destaca a conferência sobre psicoterapias, ressaltando que, independente do método psicoterápico abordado, não se pode deixar de lado a escuta dos pacientes. Nesse sentido, o exemplo abordado avalia que pouco valor terá um bom farmacologista, com todo seu conhecimento sobre as novas medicações, se esse não souber ouvir seu paciente e individualizar seu tratamento. Postura essa que comumente vem sido colocada de lado na psiquiatria atual. Dessa forma seria mais fácil para o psiquiatra apenas medicar o paciente e conduzir a outro profissional o trabalho psicoterapêutico? Não pareceu uma boa opção sobre a visão dos palestrantes, que frisaram a importância dos psiquiatras em não deixarem de lado essa parte do tratamento.

Além disso, o renomado Professor Emérito de Epistemologia da Psiquiatria, da Universidade de Cambridge, Dr German Elias Berrios, falou a respeito dos métodos diagnósticos utilizados atualmente, referindo-se ao CID- 10 e recentemente atualizado DSM-V, destacando a importância de não sucumbirmos à soma dos sintomas e sim avaliarmos a psicopatologia para cada caso. Pensamento muito coerente e que também tem sido colocado de lado nos tempos atuais em prol da maior facilidade que os métodos modulares parecem proporcionar. Apesar de uma linguagem mais fácil e universal, a prática do diagnóstico em psiquiatria não deveria ser reduzida a isso e pode levar a simplificações que prejudicam os diagnósticos em geral.

Ao final de um congresso que aborda a prática contemporânea da psiquiatria poderíamos pensar que as novas informações acerca das medicações e neurociências são bem-vindas, mas a psicopatologia clássica e a escuta dos pacientes ainda são a base da prática psiquiátrica. Não é um momento de descartar o clássico em detrimento do vigente, não se trata de exclusão, mas sim de conciliar as novas informações e sustentar uma clínica que legamos e construímos diante das mais diversas formas de adoecimento mental. 

Elisa Padovan Camillo é psiquiatra formada pelo Hospital do Servidor Público Estadual e membro da equipe do Instituto da Psicanálise Lacaniana – IPLA.

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