Nos espelhos da vida, somos todos filhos de Carminha 17/10/2012

Por Claudia Riolfi

Quando sua mãe é a temível Carmem Lúcia Moreira de Araújo, o melhor é descobrir algo para aprender com ela. Eis o que a jovem Ágata nos ensina em Avenida Brasil

Pediatras, pedagogos, psicólogos ou, simplesmente, boas almas, não têm razão para estar tão aflitos com o destino de Ágata, a rejeitada, insegura e desajeitada filha da vilã Carminha na novela Avenida Brasil. É o que pensam os psicanalistas da Clínica do Real, para quem ninguém está obrigado a permanecer onde foi colocado.

Mas porque as pessoas tanto se angustiam com as desventuras da adolescente? Porque partem de uma premissa errada. Pensam que existem palavras capazes de apreender o que se passa no corpo vivo. Pensam, ainda, que, quando uma pessoa usa palavras para descrever o outro, o dono do corpo deve, necessariamente, construir seus modos de se satisfazer de acordo com os nomes que lhe foram atribuídos. Em última instância, acreditam que o jovem humano organiza sua vida a partir do que se disse a seu respeito.

Quem está preocupado com Ágata, julga que a menina puxou a Tufão: o bom moço que, de tanta bondade, chega a ser cego para o que se passa sob seu nariz. Seu pai adotivo é escravo do olhar alheio. Se a gorducha se mantiver nessa identificação, está perdida. Obesa e sem sal, a menina – interpretada por Ana Karolina Lannes, 12 anos – é insultada pela torcida do Flamengo. Aparentemente perplexa, ela divide seu tempo entre três principais atividades. Fica triste, tenta se fazer amar pela mãe e segue os conselhos de Álvaro de Campos: “Come chocolates, pequena;/ Come chocolates!/ Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.”.

Como Ágata poderia se salvar? Se identificando com alguns traços de sua mãe. Não se sabe muito a respeito do passado da vilã, mas os poucos elementos que João Emanuel Carneiro nos fornece permitem concluir que Carminha não começou a vida cumprindo o passo a passo de um jogo de cartas marcadas. Afinal, ela passou de moradora de lixão a madame. Não deu a mínima para as palavras que, evidentemente, foram ditas a seu respeito. Não deu consistência às supostas expectativas do outro. Por que sua filha teria que dar?