Por Italo Venturelli
No mês de dezembro, organizamos nossas agendas para as festas natalinas e do ano novo. O Brasil, país tropical, importou alguns padrões de comemoração que, na realidade, são próprios dos países onde, nesta época do ano, acontece o chamado solstício de inverno, fenômeno da astronomia que marca o início do inverno. É o instante em que o Hemisfério Norte está inclinado cerca de 23,5º na direção do sol. Época em que, originalmente, era destinada a celebrar o nascimento anual do deus Sol.
A palavra natal, derivada do latim, tem sentido de nascer. A Igreja Católica, no terceiro século d.C., adaptou a festa do deus Sol ao seu calendário para permitir a conversão dos povos pagãos, sob o domínio do Império Romano, que passaram a comemorar o nascimento de Jesus de Nazaré.
O Natal não se encontrava entre as primitivas festividades cristãs. A primeira evidência da festa procede do Egito. Historicamente, relatado no Evangelho de Mateus, temos os Reis Magos que, orientados pelas estrelas, principalmente a citada “Estrela de Bélem”, se dirigiam ao local do nascimento do Salvador. As estrelas eram estudadas pelos astrônomos e religiosos, pois eram as orientadoras dos caminhos a serem percorridos. Um mapa estrelar era como uma bússola, uma referência, sendo uma das primeiras redes de conhecimento inventadas pelo homem.
Outra referência às festividades de final de ano é a Saturnália, festividade romana que também foi absorvida pela Igreja Católica. Acontecia no mês de dezembro e marcava as comemorações pelo fim do ano agrário e religioso, somados também ao fim de um ano “velho” e início de novo ano. Celebrava a expectativa quanto às próximas colheitas e o ano que começava.
Essas referências mostram que o Natal, ao longo dos séculos, ganhou interpretações e matizes próprios em cada cultura, mas, também, na vida pessoal de cada um. Encontro com amigos. Festa junto daqueles que mais amamos. Momento de celebrar a vida. Festivo, comovente, nostálgico, gastronômico, religioso, mágico, enfim, a cada um ele toca de um jeito. Além da tradição e da troca de presentes, as festividades natalinas vêm ao encontro da ideia de que a vida pede uma invenção de sentido. Precisamos atribuir significado às nossas experiências, marcarmos o calendário com acontecimentos que habitam nossa memória e nos possibilitam ter histórias para contar. Que as estrelas nos sirvam de inspiração. Feliz Natal!
Italo Venturelli é neurocirurgião, psicanalista e Diretor do Hospital Regional do Sul de Minas Gerais.