Por Mariana Aparecida de Oliveira Ribeiro
Para ser um super star, é preciso saber inventar a si próprio
O título deste texto foi retirado da canção Born Naked, de RuPaul Andre Charles, um cantor, modelo, apresentador, autor, ator e drag queen. Atualmente, a drag faz muito sucesso como apresentador de uma série que ele mesmo idealizou: RuPaul´s Drag Race, programa que está fascinando o mundo. A série já tem sua oitava temporada prevista e mais duas edições especiais.
No Brasil, a partir de agosto de 2015, a série passou a ser exibida, pela Multishow, em duas versões: legendada e dublada. A exibição coroou o sucesso que o programa já vinha fazendo no Brasil. O lançamento foi bastante divulgado por essa rede de TV e por jornais (como a Folha Ilustrada, de 12 de julho de 2015, em uma matéria que abordava a dificuldade em traduzir as gírias usadas no programa). Existem blogs que discutem o programa, venda de produtos que trazem estampado os participantes da série etc.
Qual a razão do sucesso? Como RuPaul´s Drag Race nos interpreta? Em si, a série pode parecer banal. É uma mistura de séries conhecidas como America Next Top Model e Project Runaway. Busca selecionar uma sucessora de RuPaul, a próxima drag queen de sucesso da América.
O cenário muda quando analisamos o critério de seleção das eliminadas. As primeiras são aquelas que não conseguem realizar os desafios colocados por não serem capazes de se desvincular da expectativa do outro. Por exemplo, perdem a “corrida” aquelas que, por acreditarem ter de manter o papel de “rainha da beleza”, não conseguem fazer comédia. Presas ao imaginário, essas drags mostram-se incapazes de ser outra coisa.
Se pensarmos no trabalho do psicanalista Jean Allouch, que, em A clínica do escrito (1995), afirma que sanidade mental é “passar para outra coisa”, podemos afirmar que as vencedoras do programa são aquelas que conseguiram conquistar maior flexibilidade. Essa parece ser a política de “Mama Ru”, nome pelo qual RuPaul é carinhosamente chamada por outras drags.
Ao eliminar as queens que se limitam ao reforçar estereótipos, Rupaul parece apontar para uma posição que, na pós-modernidade, convém a todos nós. A compositora foi coerente com seus versos. Segundo ela, para ser um super star, é preciso saber inventar a si próprio. Isso vale para todos, mesmo para os que estão confortáveis com serem “homens” ou “mulheres”.
Mariana Ribeiro é professora da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, doutoranda em educação na Faculdade de Educação da USP – FEUSP e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa Produção Escrita e Psicanálise – GEPPEP.
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