Nasce uma história 19/12/2013

Por José Nogueira

Nelson Mandela morreu dias antes do Natal. Deixou uma história de coragem para nós e para os que nascerão

Para os povos do Norte, Natal é vida em meio à morte. Só enxergamos suas luzes na escuridão. Não há felicidade sem a tristeza da morte. Assim, a escuridão da morte de Nelson Mandela, um dos grandes homens da história da humanidade, assombrou as preparativas para a festa do nascimento, a festa de Natal. Sua vida terminou. Nasceu uma história de coragem.  

Coincidência ou não, coube-me, durante a Conversação Clínica do Instituto da Psicanálise Lacaniana, realizada em São Bento do Sapucaí, comentar o verbete CORAGEM, que comporá o “dicionário de bisturis da clínica do real”. Quando tomei a palavra, estava com meu pensamento voltado para Nelson Rolihlada Mandela – o Madiba. Ele acabara de falecer. Era um exemplo de coragem, pois mostrava tudo que encontramos, quando nos dicionários procuramos a definição de coragem: bravura em face do perigo, intrepidez, ousadia, resolução, franqueza, desembaraço, perseverança, constância e firmeza, muita firmeza.

Para realizar um sonho de liberdade é preciso antes de tudo sonhar. Mas, a vida de sonhador custa caro, muito caro. Custa dores, sofrimentos, frustrações, renúncias, solidão… além de muito trabalho e coragem para sustentar o desejo e o sonho que somente advém da falta.

Engajado pelo seu sonho, na luta contra o Apartheid, que significa “vida separada”, jamais aceitou o regime que obrigava brancos e negros a viverem separados. A minoria branca controlava o poder, enquanto os “restantes”, os “outros” não gozavam dos direitos humanos de que ordem fossem, sejam eles políticos, econômicos, sociais. Apesar da segregação, violentamente mantida, Madiba nunca cedeu de seu desejo. Mas, era preciso coragem para, na luta, na prisão e no governo sustentar seu desejo até o fim de sua vida. Termina uma vida. Nasce uma história inesquecível de coragem.

José Nogueira de Sá Neto é médico psiquiatra e psicanalista