(Não) tem solução 24/07/2013

Por Helainy Andrade

Frente aos problemas educacionais, para não ficarem acuados e adoecidos, os educadores podem tomar nas próprias mãos a tarefa de inventar soluções criativas para seus impasses

São Paulo, a maior rede de ensino público do país, com 250 mil professores. Registra, por dia, aproximadamente 30 mil faltas destes profissionais e em um ano quase140 mil licenças médicas. Nesse período, o custo para o governo estadual chega a 235 milhões de reais. Por que tantos adoecimentos? Escutando-os, costumam dizer: “Minha situação não tem solução!”. Isso é verdade, não tem mesmo: a pessoa vai ter que inventar uma. O problema não está na falta de solução, mas em recuar. A psicanálise, como um viral, nesse ponto, apresenta uma solução: o entusiasmo nela obtido é contagiante.

Uma metáfora do tipo de entusiasmo ao qual nos referimos pode ser observada em uma história real. Ela foi relatada no livro Master of Disguise: My Secret Life in the CIA, de Antonio J. Mendez e muito bem contada no filme Argo (2012), de Ben Affleck, vencedor do Oscar de 2013. Mostra o que se passou no Irã quando manifestantes revoltados protestavam, em 1979, contra os Estados Unidos, pelo asilo político concedido a seu ex-governante. A embaixada americana foi invadida, foram feitos reféns e a exigência para desocupação era a de que o político fosse devolvido ao Irã, para ser julgado.

Seis pessoas conseguiram escapar e foram acolhidas na casa do embaixador do Canadá. A complicação é que, ao contrário das aparências, as pessoas que fugiram para a casa corriam mais risco de vida do que as que estavam na embaixada, sob os olhos do mundo, que acompanhava tudo pela televisão. Por esse motivo, um agente da Central Intelligence Agency (CIA) foi procurado pelo governo para traçar um plano de resgate: agentes se passariam por atores canadenses em viagem ao país em busca de locações para filmar Argo.

O agente da CIA foi impecável em todos os detalhes do plano. A operação foi elaborada e executada com primor. Sua ousadia estava na mesma proporção do risco da missão. Mas, para surpresa do agente, um telefonema do governo norte-americano o avisa de que tudo havia mudado: o resgate seria militar. A partir desse ponto, o filme mostra alguém excepcional, que suporta estar fora de onde o colocam, do apoio anteriormente conferido e, em último caso, da expectativa do Outro.

O compromisso do agente era o de salvar vidas. Não havia nada que importasse mais que isso. Ele não conseguia pensar como o governo americano, para quem era preferível a comoção nacional pela morte dos seis ao constrangimento mundial, caso o seu extraordinário plano fracassasse. Ficou absolutamente sozinho, sem nenhum apoio. Até as pessoas que ele deveria resgatar vacilaram. Poderia ter desistido, mas não o fez.

Ele sabia que nada, a não ser sua própria condução, lhe daria chances de sucesso. Aquilo era com ele. Não houve quem lhe estendesse a mão, nem para apoiar e menos ainda para reconhecer seu mérito. Não era isso que estava em questão. Fez o que não podia deixar de ser feito.

Portanto, na medida em que cada um de nós disser “É comigo!” poderá tomar decisões responsáveis, que valem por si mesmas. Realmente, isso é só com cada um de nós.

Helainy Andrade é psicanalista em Varginha-MG e pesquisadora na Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP