Mudança 30/01/2014

Por Dorothee Rüdiger

Vale apostar, encarar a angústia e conquistar novos horizontes

Dá vontade de desistir. Quem já realizou uma, duas, várias mudanças na vida sabe que é essa estranha a sensação que acomete quem não quer ficar parado na vida. Por um lado, há a sedução do novo. Pode ser um novo endereço, um novo emprego, um novo amor. “Começar de novo”. Tem até música. É o frescor do futuro ventando em nossas janelas, prometendo levar consigo a poeira do passado. Vai ser show esse futuro. Assim, ao menos, espera-se.

No entanto, mudar de vida e de endereço dá trabalho e angustia, pois o tal do Real, esse estranho desconhecido, em torno do qual Jacques Lacan construiu a clínica psicanalítica do Século XXI, causa angústia. De repente, o lugar conhecido, o antigo endereço parece tão aconchegante. Gemütlich, dizem os alemães para denominar “aquilo que apraz a psique”. Gemütlich é tudo de bom, arrumado, convidativo, acolhedor. Gemütlich é o útero, o lugar que tanto seduz o ser humano a querer voltar para trás ou, ao menos, ficar parado.

Pois é. Para nascer é inevitável sair do aconchego. Para ser gente, um dia, tivemos que sair debaixo da saia da mãe, sair de casa, encarar o mundo. Para levar uma vida adulta, a independência é fundamental. Sair de casa é emancipar-se, no sentido literal da palavra latina.

Mudar de endereço, de profissão talvez, de estilo de vida, até de país é uma chance para levar uma vida mais emocionante e, portanto, mais rica. Dá trabalho e o resultado é incerto. Mas, vale apostar, encarar a angústia e conquistar novos horizontes que permanecerão invisíveis para quem prefere deixar tudo como está.

Dorothee Rüdiger é psicanalista e doutora em direito pela Universidade de São Paulo.