Mãe só tem uma? 28/02/2013

Por Griseldis Achôa

Ao contrário do que muitos acreditam, filhos de casais homossexuais podem ter melhor desempenho escolar e menos dificuldades de interação. Não importa se é uma mãe ou duas. Para cuidar do filho, fundamental é combinar responsabilidade e criatividade

“Mãe só tem uma”, ouvimos incessantemente desde a infância – e ai de quem ousa questionar. Porém, pesquisas científicas recentes colocaram em xeque esta pérola da sabedoria popular. Em fevereiro, a revista Super Interessante trouxe uma entrevista com Nanette Gartrell, psiquiatra e pesquisadora norte-americana que estuda há 17 anos o comportamento de meninos nascidos em famílias constituídas por duas mulheres. Para infelicidade de quem acredita que ter duas mães (ou dois pais) condena o rebento a toda sorte de dificuldades, a pesquisadora concluiu que essas crianças apresentaram melhor desempenho nas atividades escolares e na interação social, além de terem menor índice de agressividade social do que os garotos provenientes do clássico modelo familiar heterossexual. E então?

A questão pode ser compreendida sob outro prisma que não o das liberdades individuais e da manifestação da sexualidade: o da psicanálise. Estas mulheres, que assumiram publicamente seu desejo singular, sabiam que seus filhos estariam expostos a preconceitos e que era preciso estender a responsabilização pessoal de sua escolha para eles, dedicando mais tempo para tornar seu caminho o mais saudável possível. Mas será que é preciso ser lésbica para fazer isso? Claro que não!  Basta ocupar o lugar de mãe.

Analisando sob a perspectiva das crianças, a pesquisadora percebeu que, apoiadas pelas mães, elas enfrentaram as dificuldades com criatividade, e criaram formas de derrubar os preconceitos, e uma delas foi justamente o desenvolvimento de competências. Será que no caso das crianças nascidas em lares heterossexuais isto é diferente? Com certeza não. Estas crianças são como tantas outras, filhos e filhas do amor – uma criança amada tem mais chance de dar certo na vida.

A pesquisa da Dra.Nanette  tem o mérito de demonstrar que, diante da vida não existe  determinismo; ninguém “tem que ser  assim por causa disso ou daquilo”. Os arranjos possíveis têm muito mais do que cinquenta tons. Paternidade e maternidade não são apenas um acontecimento biológico.

A psicanálise entra na questão com seus bisturis, ao implicar o sujeito em sua singularidade e fazer com que ele se responsabilize por ela. O desejo é o que há de singular, e cabe a cada um não somente não abrir mão do seu, como de respeitar o desejo do outro.

Diante das dificuldades, vale ser criativo, independentemente do credo, cor, opção, sexual e de outros “quetais”. Não importa se é uma mãe ou duas, um pai ou dois. O fundamental é combinar responsabilidade e criatividade.