Longevidade mapeada 27/09/2012

Por Liége S. Lise

Qual o segredo para envelhecer bem? No projeto “Os 80+”, a Clínica da Psicanálise do Genoma investiga as características psíquicas que ajudam a chegar aos 80 anos com saúde e autonomia

“Você ainda irá precisar de mim, ainda irá gostar de mim/Quando eu estiver com sessenta e quatro?”, cantava Paul McCartney em 1970, na clássica When I’m 64. De lá para cá, nos tornamos cada vez mais velhos. Se em meados do século XX havia no mundo 14 milhões de idosos com mais de 80 anos, em 2050 esse número ultrapassará os 400 milhões, segundo a Organização Mundial de Saúde. O avanço da medicina permite que os idosos mantenham-se ativos por muito mais tempo. Que o diga o próprio Paul McCartney. Bem depois dos 64, ele ainda faz shows lotados.

E quais as características dos idosos que, assim como o ex-Beatle, conseguem envelhecer bem? É nesta pergunta que se concentra o Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo, na pesquisa “Os 80+”. O objetivo é construir um banco de dados com o DNA de mil pessoas acima de 80 anos que apresentam um bom estado de saúde física e cognitiva. Essas informações auxiliarão no entendimento das doenças e nos mecanismos genéticos da longevidade. Segundo a Dra. Mayana Zatz, geneticista responsável pelo projeto, o código genético de quem conseguiu completar oito décadas de vida, em um ambiente tão hostil quanto São Paulo, tem muito a dizer sobre como podemos aumentar nossa longevidade.

O IPLA também participa desta pesquisa, com a Clínica da Psicanálise do Genoma. A Clínica se insere no trabalho a partir das seguintes perguntas: haveria a existência de uma peculiaridade psíquica comum aos participantes? Qual o diferencial subjetivo presente nessas pessoas? Guardando a singularidade com que cada pessoa se expressa, haveria características (como curiosidade, entusiasmo e espirituosidade, por exemplo) que poderiam ser elencadas como manifestações subjetivas presentes nessas pessoas?

Em um Brasil que envelhece a passos largos – temos quase 15 milhões de idosos hoje –, este trabalho é da maior importância, pois a longevidade apresenta impasses dantes não existentes. Nas palavras de Jorge Forbes: “um novo velho está nascendo, não tanto o da experiência, como se dizia, mas o da criatividade: passado o tempo do embate pela vida, chega o momento de viajar na bagagem selecionada e de visualizar novos campos de pouso, longe dos asilos do mundo anterior. A psicanálise pode nos dar pistas”.

A vida depende do sentido que emprestamos a ela. Em qualquer idade, a vida pede a cada pessoa a invenção de um estilo não padronizado e genérico de existir. Como será a invenção do amor, do trabalho e da diversão aos 80, 90 ou 100 anos? A trajetória dos “80+” talvez nos ajude a descobrir.