Jeitinho brasileiro de amar 08/07/2014

Por Jorge Forbes

Mesmo no silêncio do primeiro encontro os brasileiros dançam –  com o olhar, o aceno, a cruzada de perna, o andar, o meneio.

Haveria um jeito brasileiro de amar?

Na onda de se apresentar o Brasil ao mundo, os brasileiros voltam-se sobre si mesmos e se perguntam com que roupa vão aparecer no baile das nações, inclusive no amor.

Não precisamos nos aprofundar muito, para perceber que cada povo ama de certo jeito peculiar. É o que nos permite brincar, em caricatura, que o amor francês é cheio de biquinhos e não me toques; que o alemão ama na dureza; que o americano até no carinho usa a régua do custo-benefício; que o argentino, especialmente o macho, abre e exibe todas as penas do pavão; que o italiano fala mais que confirma; que o inglês ama em hora marcada etc. E o brasileiro?

Sim, podemos falar de um jeito brasileiro de amar. A principal característica é a ginga, a flexibilidade, como de resto em tudo. O brasileiro não se leva muito a sério em declarações pomposas. Nem se preocupa em sustentar um pedido de casamento na realidade prática. Primeiro o brasileiro declara e assina o sonho, depois corre atrás de sua realização. Outros povos preferem adequar os sonhos aos fatos, coisa chatíssima nessas terras. O brasileiro não se prende a uma forma convencional de expressão amorosa. Por aqui, diz o poeta Milton Nascimento, todas as formas de amor valem à pena. Outo poeta, Vinícius de Moraes, destaca o desmedido do amor na terra onde tudo dá, na infinitude do sentimento enquanto dure.

A sensualidade brasileira está à flor da pele. Dizem os sociólogos que nos estudam, como Domenico de Masi, que isso é herança da escravidão. Os negros escravos tinham como seu único bem o seu corpo. Deles e dos índios teríamos herdado a cultura do cuidado com o corpo que acaba se refletindo na proeminência da nossa cirurgia plástica e da dermatologia, e nos espetáculos esculturais de nossas praias. Mesmo no silêncio do primeiro encontro os brasileiros dançam. Com o olhar, o aceno, a cruzada de perna, o andar, o meneio.

E se você, nesse momento, está sorrindo ao se reconhecer nessas características, querendo delas saber mais, e está com vontade de acrescentar detalhes de sua forma de amar, é porque você é brasileiro e sabe que estamos agora privilegiados em uma pós-modernidade que valoriza o que já intuitivamente sabíamos: que nenhuma explicação de amor é em si suficiente. Que o amor pede sempre um complemento, um jeitinho especial dos amantes. Se não, ora, se não for assim, não tem jeito.

Jorge Forbes é psicanalista. Artigo publicado na revista IstoÉ Gente, junho de 2014.