Por Teresa Genesini
Continuando a apresentação das pesquisas empreendidas na Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo, o IPLA levou a pesquisa NEUROMUSCULAR PATIENTS: complaints are unrelated to disease a Brighton, Inglaterra, no 20th International Congress of World Muscle Society, realizado de 30 de setembro a 4 de outubro de 2015.
A parceria da Psicanálise com a Genética, iniciada em 2006, por Jorge Forbes, psicanalista, e Mayana Zatz, geneticista, resultou na criação da Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano – USP, ligada ao Instituto da Psicanálise Lacaniana – IPLA. Mais de 100 pacientes e membros da família afetados por doenças neuromusculares têm sido tratados, com sucesso, nessa Clínica.
A pesquisa apresentada neste ano mostrou que o senso comum não é bom conselheiro. Espera-se que os pacientes afetados por doenças neuromusculares (NMD) que procuram tratamento psicanalítico sofram por causa de sua condição degenerativa.
Surpreendentemente, para o senso comum, o follow-up dos psicanalistas no tratamento de portadores de diferentes distrofias revelou que a maioria das queixas dos pacientes não estão relacionados com a sua doença. Escolhemos quatro casos clínicos para ilustrar como a psicanálise pode modificar as teorias prêt- à-porter de como lidar com pacientes portadores de distrofia:
Caso |
Diagnóstico |
Queixa principal |
Resultado |
M., 13 anos |
Miopatia congênita |
Não consigo lidar com as preocupações crescentes e superproteção de minha mãe. Ela precisa ser tratada pela equipe de Psicanálise. |
Depois de ser tratada, a mãe recuperou a sua vida própria. A postura física do paciente teve uma melhora significativa. |
E., 43 anos |
Distrofia muscular do tipo cinturas
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Eu perdi todas as minhas chances. Não consigo ver um futuro para mim . |
Ela publicou um livro em que conta como a psicanálise a ajudou a renascer. |
S., 35 anos |
Distrofia Miotônica de Steinert |
Minha mãe morreu e tudo o que consigo fazer é passar meus dias sobre seu túmulo. |
Depois da primeira sessão ele declarou que sua mãe apareceu em seus sonhos dizendo que ela não queria que ele fosse mais para o cemitério. Ele redescobriu trabalho, amor e vida. |
MJ., 43 anos |
Distrofia muscular do tipo cinturas ( DMC ) (desde os 20 de idade em cadeira de rodas)
|
Meu problema é meu marido. Ele sofre de transtorno do pânico e quer que eu vá com ele em todos os lugares . Eu quero que ele seja tratado. Preciso de mais liberdade. |
Depois de serem tratados, seu marido ganhou autonomia e ela também. |
Entendemos que a “justa escuta do sofrimento de cada paciente” melhora o resultado do seu tratamento biológico. Concluímos nessa pesquisa que o sofrimento é sempre singular e está muito longe de suas patologias orgânicas. Não existe uma relação linear entre a condição degenerativa e o sofrimento.
O congresso da World Muscle Society:
Esse congresso acontece anualmente para propiciar a divulgação das descobertas científicas na área neuromuscular. Neste ano comemorou-se os 20 anos da criação da World Muscle Society e participaram do evento 750 pessoas de 40 países, com 45 trabalhos apresentados oralmente em plenária e 418 pôsteres discutidos em sessões específicas por tema com um facilitador que promovia a discussão entre o apresentador e a audiência. O WMS 2015 privilegiou estudos envolvendo doenças neuromusculares diversas como o funcionamento de células satélites no músculo normal e no músculo distrófico; novas técnicas diagnósticas usando sequenciamento de novas gerações e estudos de doenças de vias fisiopatológicas. Uma parte importante desse congresso são os novos avanços em terapia e novidades em todas as áreas das doenças neuromusculares. Neste ano foi dado destaque para a importância dos exercícios aeróbicos para a parte cardiovascular – uma nova abordagem no acompanhamento de pacientes de NMD. Houve ainda 4 simpósios sobre terapêutica promovidos por parceiros.
Neste ano apenas 5 trabalhos se referiam a abordagens psicológicas, como terapias que visam a amenizar as dificuldades de se conviver com a distrofia. O trabalho do IPLA destacou-se por duas inovações: incluir a ética da Psicanálise e se posicionar na contramão do bom senso. A Psicanálise se sobressai em meio a outras abordagens, que, sendo terapias de adaptação, visam, de uma forma moralista, “o bem-estar do paciente”.
O trabalho teve boa recepção no congresso. A Psicanálise Lacaniana do Real oferece um diálogo novo para os cientistas. Sigamos.
Teresa Genesini é psicanalista. Diretora do IPLA e editora de O Mundo visto pela Psicanálise
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