Por Silvio Genesini
NOTA INTRODUTÓRIA
Como a empresa pode se confrontar com as novas subjetividades da pós-modernidade? Escreve Jorge Forbes – “O modelo empresarial da modernidade não sobreviverá aos novos tempos. O que viemos dizendo sobre verticalidade e horizontalidade, pela proeminência do real, tem sua plena importância no domínio empresarial. O sonho do final do século XX, de estabelecer protocolos às diversas funções, até mesmo para os diretores ou o presidente de uma empresa, teve por resultado transformá-los em genéricos. (…) Nessa nova organização, a decisão não pode se basear em uma verdade geral, mas será constituída, portanto, apenas de certeza pessoal. Nela, o futuro não é projeção do presente, como na cultura tradicional, mas, sim, uma ‘invenção do presente’”. (Inconsciente e Responsabilidade: psicanálise do século XXI – prêmio Jabuti, 2013)
Estará o mundo empresarial pronto para as novas subjetividades que surgem, além da mera cosmética de superfície? Segue o testemunho de um especialista, ex-presidente da Oracle e do grupo Estado, ex-sócio diretor da Accenture e atual sócio-diretor da consultoria ToF – Traduzindo o Futuro: Silvio Genesini.
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Nessa minha nova vida de conselheiro de empresas grandes e mentor e investidor de empresas inovadoras, tenho conversado muito com uma nova e brilhante geração de profissionais. Falamos sobre suas expectativas de vida, o que os motiva, como se sentem agora e como veem o futuro.
Quanto mais converso, mais me convenço de que eles são diferentes de mim e que o mundo que os transformou é radicalmente diferente de quando eu era jovem.
Quando olho em volta, porém, vejo que as organizações os contratam, avaliam, incentivam, promovem e remuneram como se fossem da minha geração. Prometem uma carreira de longo prazo, fazem avaliações periódicas baseadas em critérios puramente quantitativos e os agrupam em curvas de avaliação forçadas para que os verdadeiros talentos desse grupo sejam reconhecidos e protegidos. Em suma, tratam esses profissionais como um grupo homogêneo, com desejos e expectativas semelhantes.
Minha percepção nessa convivência é que a realidade é bem distinta. Esses jovens viverão 100 anos e sabem que terão carreiras e vidas profissionais distintas. Querem ter experiências múltiplas antes de decidir por uma carreira. Muitos, talvez, nem decidirão. Farão da vida um experimento constante. Os que tiverem uma vocação clara poderão achar seu caminho mais cedo, mas muitos viverão permanentemente com certezas temporárias.
A grande maioria quer viver em muitos países, falar várias línguas e conviver com muitas culturas. Quer experimentar várias formas de relação com o trabalho: empregado de uma grande organização, empreendedor do próprio negócio, colaborador no terceiro setor, executivo na empresa da família, profissional liberal independente etc. Tudo isso entrelaçado com períodos sabáticos e de complementação da educação em áreas muito distintas da sua formação inicial: em humanidades, artes, ciências, design etc.
Com essas questões na cabeça, foi com surpresa e alegria que vi um depoimento recente do CEO mundial da Accenture, um francês (bom sinal dos tempos) chamado Pierre Nanterme, dizendo que o formato de avaliação da empresa, feita em períodos anuais, com curvas forçadas, não funcionava mais. Dizia ainda que a avaliação precisa ser constante, mais qualitativa e reconhecer as diferenças individuais e de perspectiva dos profissionais.
Eu passei 27 anos na Accenture sendo avaliado e avaliando os que trabalhavam comigo por esse mesmo método, que era reconhecido internacionalmente como um modelo a ser copiado. Sempre achei que era a melhor maneira de fazer e tinha orgulho da eficiência dos seus resultados.
Para mim foi um alívio e uma confirmação. Significa que a ficha está começando a cair. Não acredito que essa mudança será radical nem que muitos modelos bem-sucedidos de gestão baseados em bônus agressivos atrelados a metas desapareçam ou mesmo mudem do dia para a noite. Eles funcionam dentro de uma cultura própria em que seus participantes aceitam e compartilham esse modelo de meritocracia.
Acredito, porém, que mais e mais organizações vão perceber que podem reter e ter uma relação profícua com mentes brilhantes e criativas que hoje procuram outros caminhos porque estão sendo medidos e incentivados por uma régua linear e limitada para conviver com a singularidade e a diversidade dos jovens de hoje.
Texto publicado originalmente no lançamento do aplicativo Exame Hoje – novo App da Revista Exame.
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